Illness name: teniase cisticercose
Description:
O que são teníase e cisticercose?
A teníase, conhecida popularmente como solitária, é uma verminose provocada pelos parasitos Taenia solium ou Taenia saginata , que são vermes platelmintos da classe cestoda.
A cisticercose também é uma doença provocada por esses parasitos, porém, ao contrário da teníase, que é causada pelos vermes adultos da Taenia solium ou Taenia saginata , a cisticercose é uma doença causada somente pela larva (cisticerco) da Taenia solium .
Teníase e cisticercose são doenças completamente diferentes, com sintomas, ciclo de vida e tratamentos distintos.
O que são Taenia saginata e Taenia solium ?
Existem 32 espécies de tênia, porém só duas delas são capazes de provocar doença no ser humano: Taenia saginata e Taenia solium . Recentemente, uma terceira espécia de tênia, chamada Taenia asiatica , foi identificada em alguns humanos no sudeste da Ásia.
As tênias são grandes vermes de corpo achatado que podem alcançar vários metros de comprimentos. A Taenia saginata é um verme maior, podendo chegar até a 25 metros de comprimento, apesar da média ser 5 metros. Já a Taenia solium costuma medir entre 2 a 7 metros.
A tênia é um parasito que pode ser encontrado em praticamente todos os continentes. Estima-se que, em todo o mundo, cerca de 50 milhões estejam infectadas com a Taenia solium ou Taenia saginata .
O apelido solitária vem do fato da teníase ser uma parasitose habitualmente provocada por apenas um único verme. Em alguns casos, porém, o paciente pode ser parasitado por mais de uma tênia.
Ciclo de vida da tênia
Os seres humanos são os únicos hospedeiros definitivos da T. saginata e da T. solium . Os bovinos são os hospedeiros intermediários da Taenia saginata, e os suínos são os hospedeiros intermediários da Taenia solium .
O ciclo de vida da teníase começa quando um ser humano infectado evacua em um local sem saneamento básico e libera para o meio ambiente ovos ou proglotes grávidas (segmento do corpo da tênia que contém órgãos reprodutores) misturados às fezes. Uma vez no solo, esse ovos de tênia podem sobreviver durante dias a meses, dependendo das condições climáticas. Vacas, no caso da T. saginata , e porcos, no caso da T. solium , tornam-se infectados pela ingestão de vegetação contaminada com ovos ou proglotes grávidas.
No intestino desses animais, o embrião da tênia liberta-se do ovo, invade a parede intestinal e consegue atingir a circulação sanguínea. Uma vez no sangue, o embrião viaja até vários órgãos, como cérebro, olhos, coração e músculos, onde se desenvolvem para a forma de cisticerco. O cisticerco contém cerca de 0,5 a 1 cm e pode sobreviver na musculatura de bovinos e suínos por muitos anos.
Os seres humanos se infectam através da ingestão de carne crua ou mal cozida que contenham cisticercos. Após ser ingerido, ao chegar ao intestino humano, o cisticerco usa suas ventosas e ganchos para ficar aderido à mucosa. Uma vez estabelecido no intestino, o parasito consegue completar seu ciclo de vida, tornando-se um verme adulto dentro de 2 meses. A maioria das pessoas apresenta apenas uma única tênia, chamada de solitária, mas se houver ingestão de muitos cisticercos, é possível que o paciente desenvolva mais de um verme adulto ao mesmo tempo.
A tênia é um verme que possui órgãos sexuais masculinos e femininos em suas proglotes, podendo ficar grávida sem a necessidade de um parceiro. A tênia possui cerca de 1000 proglotes, que, ao ficarem grávidas, destacam-se do corpo do verme e são liberadas nas fezes. Cada uma dessas proglotes pode produzir entre 50.000 e 100.000 ovos.
Ciclo da cisticercose
No momento em que o ser humano recém-infectado libera as proglotes e os ovos na fezes, o ciclo da doença teníase torna-se completo. Porém, para a doença cisticercose humana, estamos apenas na metade do caminho.
A cisticercose humana inicia-se quando o indivíduo contaminado libera os ovos de Taenia solium nas fezes e, ele mesmo ou outros seres humanos, os ingerem acidentalmente, como nos casos de águas contaminadas ou manuseio de alimentos com a mãos não devidamente higienizadas após uma evacuação. Pessoas que moram na mesma casa de uma pessoa contaminada com Taenia solium são as que têm o maior risco de desenvolverem cisticercose .
Quando um indivíduo ingere acidentalmente os ovos da T. solium , o processo se dá de forma semelhante ao que ocorre nos porcos. Os ovos liberam o embrião do parasito dentro dos intestinos, o mesmo cai na corrente sanguínea e espalha-se pelo corpo do paciente. Se o ovo conseguir alcançar o cérebro, um cisticerco irá se desenvolver neste órgão, levando à neurocisticercose, a forma mais grave da doença.
A cisticercose só ocorre com a ingestão de ovos da Taenia solium . Os ovos da Taenia saginata não conseguem se transformar em cisticerco nos humanos, apenas nos bovinos.
Portanto, resumindo:
- A teníase ocorre por ingestão de carne mal passada de animais com cisticercose, seja ela por cisticerco de Taenia saginata (carne de vaca) ou cisticerco de Taenia solium (carne de porco).
- A cisticercose humana não tem nada a ver com ingestão de carne mal passada. Ela só ocorre se houver ingestão acidental de ovos de T. solium liberados nas fezes humanas.
Sintomas
Teníase
A maioria dos pacientes com teníase não apresenta sintomas relevantes. Quando eles surgem, são mais comuns nos casos de Taenia saginata . Dor abdominal, náuseas, diarreia, perda de peso ou prisão de ventre são os sintomas de teníase mais frequentes. As crianças costumam ser mais sintomáticas que os adultos.
Alguns pacientes parasitados podem passar anos sem saber que estão com solitária, até que, um dia, notam a presença das proglotes nas suas fezes. Essas proglotes têm movimento próprio e podem também sair espontaneamente pelo ânus, sem ser durante a evacuação, indo se alojar na roupa interior.
Uma das complicações da teníase é a apendicite, que pode surgir caso uma dessas proglotes que se desprendem da tênia acabe ficando presa dentro do apêndice (leia: APENDICITE ). Da mesma forma, o ducto biliar também pode ficar obstruído.
Cisticercose
Os sintomas da cisticercose são completamente diferentes da teníase. Isso não é uma surpresa, já que ambas são doenças distintas.
Os sintomas da cisticercose variam de acordo com os locais onde o cisticerco se implanta. A forma mais grave é a neurocisticercose, que surge quando há implantação de cisticerco no cérebro. Na neurocisticercose, os sintomas mais comuns são a dor de cabeça e a epilepsia. Porém, não incomum haver casos totalmente assintomáticos de neurocisticercose.
O surgimento dos sintomas pode demorar anos. Na maioria dos casos, os sintomas só surgem 3 a 5 anos após a contaminação.
Nos casos de contaminação maciça, com múltiplas implantações cerebrais do cisticerco, o paciente pode desenvolver um quadro de edema cerebral, crises convulsivas, náuseas, dor de cabeça, alterações da personalidade e até coma.
A cisticercose também pode atingir os olhos. O espaço sub-retiniano, vítreo e a conjuntiva são os locais mais freqüentes de infecção. As manifestações clínicas mais comuns da infecção ocular incluem dor, visão turva ou cegueira.
Os cisticercos também podem se depositar nos músculos, provocando um quadro de miosite (inflamação do músculo) ou na pele, levando à formação de nódulos subcutâneos.
Diagnóstico
O diagnóstico da teníase é feito através do exame parasitológico de fezes, pela identificação dos ovos ou da proglote da tênia. Como a eliminação dos ovos é intermitente, podem ser necessários mais de um exame até que se consiga estabelecer o diagnóstico. O ideal é colher, no mínimo, 3 amostras de fezes em dias diferentes.
No caso da cisticercose, o diagnóstico costuma ser feito através de exames de imagem, como a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética do crânio, que conseguem identificar os cisticercos alojados no sistema nervoso central.
Nos pacientes com cisticercose, o exame da fezes para pesquisa da tênia é importante, pois muitos pacientes contraem o cisticerco por auto-contaminação com os ovos presentes nas suas próprias fezes.
Tratamento
Teníase
As opções de tratamento para a teníase incluem:
- Mebendazol: 200 mg, 2 vezes ao dia, por 3 dias, por via oral.
- Praziquantel, dose única, 5 a 10 mg/kg de peso corporal, por via oral.
- Albendazol, 400 mg/dia, durante 3 dias, por via oral (leia: BULA SIMPLIFICADA DO ALBENDAZOL ).
- Niclosamida, 2 gramas adulto e 1 grama para crianças, em dose única por via oral.
- Nitazoxanida, 500 mg 2 vezes ao dia, por 3 dias, por via oral (leia: ANNITA – NITAZOXANIDA – Posologia, Indicações e Efeitos Adversos ).
Após o tratamento, pedaços da tênia podem permanecer sendo eliminados por vários dias. Após 3 meses, sugere-se novo exame parasitológico de fezes para confirmar a ausência de ovos nas fezes.
Cisticercose
Nem todos os casos de cisticercose precisam de tratamento, principalmente se o paciente for assintomático. Em geral, o tratamento é indicado nos casos sintomáticos de neurocisticercose ou cisticercose ocular.
As opções de tratamento da neurocisticercose são:
- Albendazol 15 mg/kg por dia por 15 a 30 dias, dependendo da gravidade da doença.
- Praziquantel 50 mg/kg por dia por 15 a 21 dias, dependendo da gravidade da doença.
Além dos antiparasitários, indica-se também o uso de corticoides, como a dexametasona ou a prednisona, para amenizar o edema cerebral que ocorre pelo processo inflamatório gerado pela morte do cisticerco (leia: GLICOCORTICOIDES ).
Nos casos de cisticercose muscular ou na pele, o tratamento com medicamentos tem pouca eficácia. Em geral, sugere-se a retirada cirúrgica do cisticerco nos casos sintomáticos.
Referências
- Teníase / Cisticercose – Ministério da Saúde – Doenças infecciosas e parasitárias – Guia de bolso.
- Parasites – Taeniasis – Centers for Disease Control and Prevention (CDC).
- Intestinal tapeworms – UpToDate.
- Cysticercosis: Clinical manifestations and diagnosis – UpToDate.
- Cysticercosis: Epidemiology, transmission, and prevention – UpToDate.
- Bennett JE, et al., eds. Tapeworms (Cestodes). In: Mandell, Douglas, and Bennett’s Principles and Practice of Infectious Diseases. 8th ed. Philadelphia, Pa.: Saunders Elsevier; 2015.
Autor(es)
Dr. Pedro Pinheiro
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.