Illness name: doenca de fabry

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Índice
1. O que é a doença de Fabry?
2. Genética
3. Causas
4. Sintomas
4.1. Dores nos membros
4.2. Lesões de pele
4.3. Alterações das glândulas sudoríparas
4.4. Alterações oculares
4.5. Sintomas gastrointestinais
4.6. Rins
4.7. Coração
4.8. Cérebro
4.9. Doença de Fabry nas mulheres
5. Diagnóstico
6. Tratamento
7. Referências

O que é a doença de Fabry?

A doença de Fabry, também chamada de doença de Anderson-Fabry, é uma patologia hereditária rara, transmitida de modo recessivo pelo cromossoma X, o cromossoma sexual feminino.

Estima-se que apenas 1 em cada 20 a 40 mil homens apresente a mutação responsável pelos sintomas da doença.

Os pacientes com doenças de Fabry apresentam uma deficiência de uma enzima chamada alfa-galactosidase A , o que acarreta problemas renais, cardíacos e do sistema nervoso.

Neste artigo explicaremos a doença de Fabry, abordando a sua transmissão genética, as suas causas, os sintomas e as opções de tratamento.

Genética

Todos os humanos possuem dois cromossomas sexuais. Os homens possuem um cromossoma sexual Y e um cromossoma sexual X ( homens são XY ).  Já as mulheres possuem dois cromossomas sexuais X e nenhum cromossoma Y ( mulheres são XX ).

Cada um dos cromossomas sexuais que possuímos foram transmitidos por um dos pais. Por exemplo, quando um casal tem um filho homem, isso significa que o menino recebeu o cromossoma Y do seu pai e o cromossoma X da mãe, formando, assim, o par XY. Quando o casal tem uma menina, ela recebe um cromossoma X do pai e um cromossoma X da mãe, formando o par XX.

Portanto, como a mãe só é capaz de passar o cromossoma X para os seus filhos, quem “decide” o sexo da criança é sempre o cromossoma de origem paterna. Se o pai passar um Y, será um menino; se ele passar o X, será uma menina.

A doença de Fabry é uma doença transmitida por um cromossoma X defeituoso.

Quando dizemos que o Fabry é uma doença transmitida de modo recessivo pelo cromossoma X, isso significa que para a doença se manifestar nas mulheres elas precisam receber os 2 cromossomas X defeituosos (um do pai e outro da mãe).

Se um cromossoma X for saudável e o outro doente, a mulher não desenvolve a doença, pois o cromossoma saudável a protege desse defeito. Como os homens só apresentam um cromossoma X, eles não têm como ter um outro cromossoma X para protegê-lo. Portanto, basta um cromossoma X defeituoso para que ele desenvolva a doença de Fabry.

Pelo o que foi explicado até aqui, fica fácil entender por que a doença de Fabry é uma patologia que acomete muito mais os homens que as mulheres. Também é fácil entender por que a doença nos homens é sempre herdada da mãe, já que que os humanos do sexo masculino obrigatoriamente recebem o cromossoma Y do pai e cromossoma X da mãe.

Seguindo esse raciocínio, podemos afirmar que os homens que possuem a doença de Fabry não são capazes de transmiti-la a seus filhos homens, dado que esses recebem apenas o seu cromossoma Y. Porém, as filhas de pais com Fabry irão obrigatoriamente receber um cromossoma X defeituoso. Se elas também receberem um cromossoma X doente da mãe, desenvolverão a doença.

Resumindo:

  • A doença de Fabry praticamente só ocorre em homens.
  • Para uma mulher ter Fabry, ela precisa que ambos os pais tenham o cromossoma X defeituoso*.
  • As mulheres costumam ser portadoras assintomáticas do cromossoma X defeituoso, pois o seu outro cromossoma X saudável a protege da doença.
  • São as mulheres portadoras cromossoma X defeituoso que transmitem o defeito para os seus filhos.

* Esse conceito tem mudado nos últimos anos, pois há casos reconhecidos de mulheres com apenas um cromossoma X defeituoso que apresentam graus distintos de manifestações clínica da doença de Fabry.

Causas

Como já dito no início do texto, a doença de Fabry acontece por uma deficiência de uma enzima chamada alfa-galactosidase A (alfa-gal A). Essa é uma enzima presente dentro de nossas células que é responsável pela eliminação de uma substância gordurosa chamada globotriaosilceramida (GB3 ou GL-3).

Na ausência da alfa-gal A, a GB3 se acumula dentro das células, depositando-se em vários tecidos, principalmente nas paredes dos vasos sanguíneos. Por isso, a doença de Fabry faz parte de um grupo de patologias chamado de doenças de depósito .

Todos os sinais e sintomas da doença de Fabry são derivados desse acúmulo de GB3, que pode obstruir vasos sanguíneos, causando isquemias e infartos de órgãos e tecidos.

Sintomas

Os sintomas da doença de Fabry costumam seguir um certa ordem de aparecimento. Os primeiros sinais surgem na infância ou início da adolescência e incluem:

Dores nos membros

A dor ocorre principalmente nas mãos e nos pés. É causada por acometimento dos nervos do sistema nervoso periférico. Normalmente, esse é o primeiro sintoma e pode ser desencadeado por estresse, frio, calor ou atividades físicas extenuantes.

Lesões de pele

Duas lesões são comuns: teleangiectasias e angioqueratomas.

Teleangiectasias

Teleangiectasias são pequenos vasos dilatados na pele, também chamados de aranhas vasculares pelo seu formato. São comumente vistos em pessoas com varizes nas pernas . Já o angioqueratomas são elevações puntiformes arroxadas.

Na doença de Fabry, as duas lesões costumam aparecer juntas, principalmente nas coxas, quadril e em volta do umbigo.

Angioqueratomas

Alterações das glândulas sudoríparas

Outro problema comum no Fabry é o acometimento das glândulas sudoríparas, responsáveis pela produção de suor. Os pacientes podem apresentar baixa taxa de transpiração (hipoidrose), elevada temperatura corporal, fadiga intensa e intolerância ao calor.

Alterações oculares

Depósitos de GB3 nos vasos da córnea dos olhos costumam causar a chamada córnea verticilata, uma lesão da córnea que pode ser detectada com exames oftalmológicos especiais (oftalmoscopia de lâmpada de fenda).

Sintomas gastrointestinais

Sintomas gastrointestinais como dor após alimentação, náuseas e diarreia também são comuns.

Rins

50% dos pacientes com doença de Fabry apresentam acometimento renal. Os primeiros sinais são o aumento da produção de urina por incapacidade do rim em reter água. Depois surgem a proteinúria e, mais adiante, insuficiência renal crônica . Boa parte dos pacientes acaba por necessitar de hemodiálise .

Coração

O envolvimento cardíaco costuma se dar na forma de insuficiência cardíaca , arritmias cardíacas , hipertrofia do ventrículo esquerdo e isquemia do miocárdio .

Cérebro

O acometimento do sistema nervoso central pode se dar através de ataques isquêmicos transitórios ou AVC , tonturas, vertigens ou dor de cabeça .

Doença de Fabry nas mulheres

A maioria das mulheres é portadora de apenas um cromossoma X defeituoso e apresenta poucos ou nenhum sintoma da doença de Fabry.

Porém, por fatores ainda não bem conhecidos, existe um pequeno grupo que desenvolve a doença tal como os homens.

Diagnóstico

Por ser uma doença rara e pouco conhecida, inclusive entre os médicos, muitas vezes os pacientes precisam esperar anos entre os primeiros sintomas e o diagnóstico definitivo. Quando há história familiar, o diagnóstico sai mais facilmente, pois a própria família já sugere a hipótese da doença ao médico.

A tríade de alterações renais + angioqueratomas + dor nos membros em crianças ou jovens do sexo masculino, deve sempre levantar a suspeita de doença de Fabry.

O diagnóstico pode ser confirmado através da dosagem da enzima alfa-galactosidase A. A maioria dos pacientes apresenta níveis indetectáveis ou muito reduzidos.

A biópsia de pele ou do rim pode fornecer o diagnóstico naqueles casos atípicos, no quais o médico não pensa inicialmente na doença de Fabry como diagnóstico diferencial.

As mulheres portadoras do gene da doença podem ser assintomáticas e ter níveis de alfa-gal A normais. Nestes casos apenas testes genéticos podem confirmar se a mesma possui o gene da doença, sendo passível de transmissão para seus filhos. A análise genética ainda é feita em pouquíssimos laboratórios.

Tratamento

A doença de Fabry não tem cura. Porém, já existe uma forma sintética da enzima alfa-gal A para administração. As duas marcas atualmente comercializadas são a Replagal® e a Fabrazyme®.

Recentemente, um novo fármaco foi aprovado na Europa e EUA: Migalastat (nome comercial Galafold).

O Migalastat liga-se a determinadas formas instáveis da alfa-gal A, estabilizando a enzima. Isto permite que a enzima seja transportada para áreas da célula onde pode decompor a GL-3.

Atualmente, a expectativa de vida média dos pacientes não tratados está ao redor dos 50 anos. Os medicamentos são muito recentes e ainda não houve tempo para se comprovar diminuição da mortalidade, apesar das evidências de existir redução dos depósitos de GB3 e retardamento da perda de função renal.

Quanto mais cedo for iniciado o medicamento, melhores são os resultados. O tratamento é para vida toda.


Referências

  • Fabry Disease – National Organization for Rare Disorders.
  • Fabry disease – U.S National Library of Medicine.
  • Fabry disease: Clinical features and diagnosis – UpToDate.
  • Fabry disease: Treatment – UpToDate.
  • Fabry Disease – Medscape.

Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.