Illness name: herpes labial

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Índice
1. O que é herpes labial?
2. Galeria de fotos de herpes labial
3. Transmissão
4. Sintomas
4.1. Infecção primária pelo vírus herpes simplex tipo 1
4.2. Recorrência do herpes labial
5. Diagnóstico
6. Tratamento
6.1. Infecção primária
6.2. Reativações
6.3. Supressão crônica
7. Prevenção
8. Herpes labial tem cura?
8.1. Por que não existe cura para o herpes labial?
9. Referências

O que é herpes labial?

Herpes labial é uma doença contagiosa causada pelo vírus herpes simplex tipo 1 (HSV-1). O paciente contaminado pelo vírus herpes simplex tipo 1 costuma apresentar feridas dolorosas nos lábios, mas a infecção também pode acometer a gengiva, faringe, língua, céu da boca, interior das bochechas e, às vezes, até a face e o pescoço.

O vírus herpes simplex tipo 1 pode também causar lesões nos órgãos genitais, sendo transmitido através da prática de sexo oral. Todavia, o herpes genital é mais comumente causado pelo vírus herpes simplex tipo 2 (HSV-2), que apresenta mais facilidade em se multiplicar nas células da pele da região genital do que nas da cavidade oral.

Em geral, 80% dos casos de herpes labial são causados pelo vírus herpes simplex tipo 1 e 20% pelo vírus herpes simplex tipo 2. O inverso ocorre com o herpes genital, o vírus herpes simplex tipo 1 causa apenas 20% das infecções contra 80% do vírus herpes simplex tipo 2.

Até 80% da população com menos de 50 anos já teve contato com o vírus do herpes labial em algum momento da vida, mas menos de 1/3 desses desenvolvem a doença, apresentando lesões recorrentes da boca. Os outros 2/3 desenvolvem anticorpos, não apresentam sintomas e se tornam imunes ao vírus.

Nesse texto falaremos exclusivamente sobre o HSV-1 e o herpes labial. Se você procura informações sobre o herpes genital, acesse o seguinte link: HERPES GENITAL – Sintomas, Transmissão e Tratamento.

Galeria de fotos de herpes labial

Se você tem dificuldade de distinguir o herpes labial das aftas, leia o seguinte artigo: Diferenças entre afta e herpes labial.

Transmissão

O vírus herpes simplex só causa doença no ser humano. A sua transmissão se dá pelo contato entre pessoas, através da saliva, perdigotos, pele ou lábios do paciente contaminado. Quando há lesões visíveis do herpes, a quantidade de vírus na cavidade oral aumenta cerca de mil vezes, o que torna a transmissão nessa fase muito mais provável de ocorrer.

Todavia, não é somente durante as crises que o herpes labial pode ser transmitido. De tempos em tempos, o vírus aparece na saliva, mantendo o paciente contagioso por alguns dias, mesmo quando não há lesão ativa do herpes. Se selecionarmos aleatoriamente 100 pessoas portadoras do vírus herpes simplex tipo 1, que estejam nesse momento assintomáticas, poderemos encontrar o vírus nas secreções orais de até 15 delas.

Há diversas formas de transmissão do herpes labial, nos adultos as mais comuns são através do beijo ou de talheres e copos contaminados. Porém, a maioria das pessoas se contaminam com o vírus herpes simplex tipo 1 ainda na infância, quando o contato com secreções orais é muito comum.

Sintomas

O período de incubação do herpes labial varia entre 2 a 26 dias, mas na maioria dos casos as lesões surgem 4 a 6 dias após a contaminação. Todavia, é bom salientar que a maioria dos pacientes não desenvolve sintomas após a contaminação pelo vírus herpes simplex tipo 1. Na verdade, apenas 20% das pessoas desenvolve a doença. Os outros 80% permanece com o vírus “adormecido” no corpo por vários anos.

Infecção primária pelo vírus herpes simplex tipo 1

Nos cerca de 20% dos indivíduos que desenvolvem sintomas do herpes labial, a primeira vez que as lesões surgem, chamada infecção primária, costuma ser a que apresenta os sintomas mais intensos. O paciente pode apresentar febre, mal-estar, perda do apetite, dor de garganta e aumento dos linfonodos do pescoço. Nas crianças é comum haver gengivite (inflamação da gengiva), enquanto no adulto faringite forte, com pus e úlceras na faringe e nas amígdalas é o sintoma mais comum da infecção primária pelo vírus herpes simplex tipo 1. O quadro costuma durar até 2 semanas e desaparece espontaneamente.

As lesões típicas do herpes nos lábios podem não aparecer na infecção primária. Quando surgem, são muito dolorosas.

A cavidade oral é o local mais acometido pelo vírus herpes simplex tipo 1, porém, dezenas de outros pontos do corpo podem apresentar a infecção, incluindo as mãos, braços, pescoço, órgãos genitais e olhos. O herpes também pode acometer órgãos, como o cérebro (encefalite herpética), fígado (hepatite herpética), pulmões (pneumonite herpética) e esôfago (esofagite herpética). Estas lesões de órgãos costumam ser graves e são mais comuns em pacientes com algum grau de imunossupressão, como portadores do HIV, transplantados ou pacientes sob tratamento com quimioterapia ou drogas imunossupressoras

Recorrência do herpes labial

Uma vez que a infecção primária tenha desaparecido, o vírus herpes simplex tipo 1 não morre, ele permanece vivo em nosso corpo, adormecido nas células dos nossos nervos, à espera de uma baixa do sistema imunológico para voltar a atacar.

As típicas lesões do herpes labial surgem nas reativações do vírus. O quadro é bem mais brando que na infecção primária e costuma durar no máximo 7 dias. Os sintomas intensos da infecção primária, como febre e mal-estar não são comuns nas recorrências.

Alguns pacientes conseguem saber quando uma reativação do herpes está a caminho. Geralmente, esse aviso vem em forma de formigamento, dor, queimação ou coceira nos lábios, que surgem de 6 a 48 horas antes das lesões reativarem.

As lesões do herpes labial surgem inicialmente como pequenas elevações avermelhadas e dolorosas que rapidamente se transformam em bolhas agrupadas. Estas bolhas viram pequenas pústulas (bolhas com pus no interior) e estouram, se transformando em úlceras. A ulceração é a última fase da lesão ativa, cicatrizando em alguns dias, sob a forma de crostas.

Como já dito acima, muitos pacientes não apresentam a infecção primária pelo herpes. Isso não significa que o vírus não esteja vivo dentro de suas células nervosas. Se o paciente apresentar alguma queda da sua imunidade, e isso pode ocorrer, por exemplo, durante períodos de estresse, o herpes labial pode aparecer pela primeira vez somente anos depois da contaminação. Quando o paciente não apresenta a infecção primária, é quase impossível determinar a data em que o mesmo foi contaminado.

O herpes labial pode apresentar várias recorrências durante um ano ou apenas uma ou duas durante toda a vida. Esta frequência é determinada por vários fatores, entre eles a competência do sistema imune do paciente e o tipo de vida que o mesmo leva. Conforme os anos vão passando, as recorrências vão ficando cada vez mais fracas e espaçadas.

Diagnóstico

O diagnóstico do herpes labial é muitas vezes feito apenas com dados clínicos, através do exame das lesões e da avaliação dos sintomas. No caso de dúvida, uma amostra das lesões pode ser colhida para avaliação laboratorial. A fase das bolhas é a que apresenta maior presença do vírus, sendo a mais indicada para a coleta do material.

A sorologia e o exame de PCR (detecção do DNA do vírus), feitos através de coleta de sangue, também podem ser usados e servem para diagnosticar e distinguir infecções pelo vírus herpes simplex tipo 1 e tipo 2.

Tratamento

Infecção primária

Na infecção primária, se o tratamento com antivirais em comprimidos (ex: aciclovir , fanciclovir ou valaciclovir) for iniciado nas primeiras 72 horas, há uma redução significativa do tempo de doença e da intensidade dos sintomas.

Os esquemas de tratamento mais recomendados são:

  • Aciclovir : 200 mg, 5 vezes ao dia por 7 a 10 dias (esquema alternativo: 400 mg 3 vezes ao dia por 7 a 10 dias).
  • Fanciclovir : 250 mg, 3 vezes ao dia por 7 a 10 dias.

Reativações

Nas reativações do herpes labial, o tratamento dependerá do quão frequente são as recorrências e da intensidade dos sintomas. Pacientes com crises raras e pouco sintomáticas podem não precisar de tratamento algum, no máximo alguma pomada com anestésico para reduzir a dor.

Os pacientes com recorrências mais frequentes, principalmente aqueles que apresentam sinais de aviso antes das lesões surgirem, podem se beneficiar do uso precoce de antivirais. Em geral, os melhores resultados são obtidos com medicamentos por via oral, iniciados o mais rapidamente possível após os primeiros sintomas. As famosas pomadas de aciclovir apresentam eficácia menor do que o uso de antivirais por via oral. O aciclovir deve ser tomado por cinco dias, enquanto os novos antivirais, como valaciclovir ou fanciclovir  são eficazes com apenas um dia de tratamento.

Os esquemas mais recomendados são:

  • Aciclovir : 400 mg, 3 vezes ao dia por 5 dias (esquemas alternativos: 800 mg, 2 vezes ao dia por 5 dias ou 800 mg 3 vezes ao dia por 2 dias).
  • Fanciclovir: 1000 mg duas vezes ao dia por 1 dia (esquemas alternativos: 125 mg duas vezes ao dia por 5 dias ou 500 mg em dose única, seguidos por 250 mg duas vezes ao dia por 2 dias).
  • Valaciclovir : 2000 mg a cada 12 horas por 1 dia.

Se o tratamento não for iniciado precocemente, ele pouco interfere na evolução da crise. Após 48 a 72 horas, nem vale mais apenas tratar, pois, nesta fase, os medicamentos já não conseguem trazer nenhum benefício. A única coisa a fazer é ter paciência e esperar as lesões sararem espontaneamente.

Supressão crônica

Se o paciente apresenta mais de 5 ou mais reativações por ano, ou costuma desenvolver lesões extensas, dolorosas e esteticamente incômodas, o uso diário de antivirais por tempo prolongado pode ser uma opção. Estudos mostram segurança com o uso de aciclovir por até 6 anos seguidos.

Os esquemas mais indicados são:

  • Aciclovir: 400 mg duas vezes ao dia por até 12 meses (reavaliar necessidade de manter o tratamento a cada 12 meses).
  • Fanciclovir : 250 mg duas vezes por dia por até 12 meses.

Prevenção

Não existe vacina contra o herpes, portanto, a prevenção deve ser baseada nas situações que costumam desencadear as crises.

O gatilho mais comum para a reativação do herpes labial costuma ser a exposição solar intensa. Pacientes com histórico de herpes devem evitar ficar horas a fio sob o sol. O uso de protetor solar é essencial e ajuda a reduzir o aparecimento das lesões. O uso do protetor parece ser mais efetivo do que a pomada de aciclovir na prevenção das recorrências do herpes labial induzidas por exposição solar.

A lisina, comercializada desde 2015 no Brasil sob o nome Resist, parece ter algum efeito na prevenção das crises, ajudando a reduzir o número de episódios ao longo do ano. A sua eficácia, porém, ainda carece de ser comprovada por grandes estudos controlados.

Herpes labial tem cura?

Sempre que falamos sobre tratamento do herpes labial, uma pergunta vem à tona: herpes labial tem cura?

Existem duas formas de encarar essa pergunta. Podemos dizer que o herpes labial tem cura, já que 2/3 das pessoas contaminadas pelo vírus conseguem controlá-lo sozinhas, através do seu sistema imunológico, eliminando-o do organismo definitivamente. O problema é que essas pessoas são geralmente aquelas que nunca desenvolveram sintomas do herpes, portanto, fica um pouco estranho falar em cura de uma doença que nunca se manifestou.

Sendo assim, a forma mais honesta de encarar a pergunta é considerando apenas os casos sintomáticos. Nos casos dos pacientes que se contaminam com o HSV-1 e desenvolvem lesões nos lábios, a resposta para a pergunta acima é: não, não existe cura para o herpes labial.

Por que não existe cura para o herpes labial?

O vírus do herpes costuma entrar em nosso corpo pela pele, migrando rapidamente para os nervos que inervam aquela região. Uma vez nos nervos, o vírus viaja até a coluna vertebral, indo se alojar em um gânglio da raiz dorsal, local da medula espinhal que contém um grupo de neurônios. Lá, o herpes simplex consegue ficar “escondido” do sistema imunológico e dos medicamentos que administramos. De tempos em tempos, sempre que o sistema imunológico sofre uma baixa, alguns desses vírus viajam de volta pelos nervos até a pele e provocam uma nova crise de herpes labial.

Os tratamentos existentes até o momento conseguem tratar as crises de herpes simples, mas são incapazes de atacar o “santuário” do vírus no gânglio nervoso de forma a eliminá-lo de vez do organismo.

A incapacidade das drogas e do próprio sistema imunológico de eliminar o vírus predispõe os pacientes infectados a episódios recorrentes de crise herpes labial. A frequência e a intensidade de cada recorrência depende do estado imunológico do indivíduo. Situações estressantes para o organismo, tais como exposição solar excessiva, falta de sono adequado, estresse psicológico, exercícios extenuantes, cirurgias, etc., podem ser um gatilho para as recorrências.

Portanto, apesar de existir tratamento para o herpes labial, ele visa apenas reduzir os sintomas das crises, acelerar a cicatrização e prevenir as complicações. Não há um remédio para curar o herpes labial.

Fuja dos tratamentos que prometem cura, pois não há na literatura científica nenhum estudo que mostre ser possível curar o herpes labial com qualquer tipo de tratamento.


Referências

  • Treatment and prevention of herpes labialis – Canadian Family Physician.
  • Treatment of mucocutaneous presentations of herpes simplex virus infections – American Journal of Clinical Dermatology.
  • Herpes labialis – BMJ Clinical Evidence.
  • Herpes Simplex – Medscape.
  • Epidemiology of herpes simplex virus type 1 infection – UpToDate.
  • Clinical manifestations and diagnosis of herpes simplex virus type 1 infection – UpToDate.
  • Prevention of herpes simplex virus type 1 infection in immunocompetent patients – UpToDate.

Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.