Illness name: queloide

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Índice
1. Introdução
2. Diferenças entre queloide e cicatriz hipertrófica
3. Como surge
4. Tratamento
4.1. Injeção de corticoides nas lesões
4.2. Gel de silicone
4.3. Remoção cirúrgica do queloide
4.4. Radioterapia (betaterapia)
4.5. Fluorouracil
4.6. Laser
5. Prevenção
6. Referências

Introdução

O queloide é uma forma anormal e esteticamente indesejada de cicatrização da pele, caracterizada por ser uma cicatriz exuberante, grossa, com relevo e de cor avermelhada.

O termo queloide tem origem grega e significa algo como “aspecto de tumor”. O nome é bem apropriado, já que o queloide é mesmo uma tumoração benigna.

O queloide pode surgir após qualquer tipo de lesão da pele, incluindo feridas comuns, cortes cirúrgicos, acne, colocação de piercing e até tatuagens.

É importante destacar que nem toda cicatriz grande e feia é necessariamente um queloide. Muitas pessoas que procuram ajuda do dermatologista para tratar supostas cicatrizes com queloide têm, na verdade, apenas uma cicatriz hipertrófica.

Neste artigo, explicaremos as diferenças entre queloide e cicatriz hipertrófica. Falaremos também das causas, dos sintomas, do tratamento e da prevenção do queloide.

Diferenças entre queloide e cicatriz hipertrófica

O processo de cicatrização normal e desejável é aquele que leva à formação de uma cicatriz plana, clara e que se limite ao local da pele que foi ferido. Tanto o queloide quanto a cicatriz hipertrófica são formas anormais de cicatrização, já que levam ao aparecimento de cicatrizes grandes e esteticamente incômodas.

O queloide é uma cicatriz espessa, com alto-relevo, dura e de coloração avermelhada/violácea. Em pessoas de raça negra, ela pode ser bem escura. É comum haver coceira ou dor, principalmente nas primeiras semanas após o evento que originou a ferida. Porém, a principal característica do queloide é o fato dele não se restringir à área lesionada. A cicatriz com queloide tende a “invadir” áreas saudáveis da pele ao redor da ferida e pode continuar a se expandir lentamente ao longo dos anos.

A cicatriz não forma o queloide imediatamente. Ele demora pelo menos 3 a 4 semanas, mas em alguns casos, pode surgir somente depois de 3 a 4 meses.

Cicatriz hipertrófica

A cicatriz hipertrófica, por outro lado, surge com cerca de 2 semanas. Ela, nos primeiros meses, pode até tornar-se grande, avermelhada e com alto-relevo, mas tende a ficar restrita à área da ferida. Outra grande diferença é o fato da cicatriz hipertrófica regredir com o tempo, ficando mais fina e com a cor semelhante à da pele. Na fase de regressão, que pode demorar de 1 a 2 anos, a cicatriz hipertrófica pode ficar até uma pouco mais profunda que a pele. Em casos de feridas grandes e em áreas de acúmulo de gordura, essa depressão também pode ser esteticamente incômoda.

A cicatriz hipertrófica é bem mais comum que o queloide. Se você tem uma cicatriz que acha ser um queloide, mas após alguns anos ela se torna bem mais discreta, você provavelmente tem é uma cicatriz hipertrófica que está regredindo.

Tanto o queloide quanto a cicatriz hipertrófica podem ocorrem em qualquer pessoa, mas o queloide é muito mais comum em indivíduos negros, mestiços ou de origem asiática. A cicatriz hipertrófica ocorre igualmente em qualquer etnia.

Como surge

A origem precisa do queloide ainda é desconhecida. Sabe-se que alguns indivíduos, principalmente aqueles de etnia negra e asiática, têm uma propensão maior a produzir mediadores químicos que estimulam a proliferação de fibroblastos. Os fibroblastos são as células de reparação e produzem o colágeno que dão origem à cicatriz. O queloide é, portanto, um tumor benigno, que surge por proliferação excessiva de fibroblastos e colágeno.

Atenção, o queloide é um tumor benigno, que nada tem a ver com câncer. Quem tem queloide não apresenta risco maior de câncer de pele.

Queloide

O queloide pode surgir a partir de qualquer lesão que necessite cicatrização. Os casos mais comuns são as feridas cirúrgicas, mas pessoas com elevada predisposição podem criar queloides a partir de tatuagens, piercing no nariz ou na orelha, lesões de catapora, lesões causadas por acne ou até vacinações, principalmente a BCG para tuberculose. Queimaduras e lesões que demoram a cicatrizar são aquelas com maior risco de formação de queloides.

A ocorrência do queloide é muitas vezes imprevisível. Uma pessoa pode colocar um piercing em cada orelha e desenvolver queloide só em uma delas.

Os locais do corpo mais sujeitos à tração da pele e dos músculos, como a região frontal do tórax, costas, ombros e a parte superior dos braços são as mais frequentemente acometidas.

Apesar do efeito estético indesejado, o queloide em si não traz maiores problemas à saúde, exceto por algum grau de comichão ou dor local. Quando são muito extensos ou surgem em áreas muito expostas, como nos casos de queloides no nariz, na face ou na orelha, essa lesão pode trazer problemas emocionais sérios.

Tratamento

Não vá pensando que você encontrará uma pomada para queloide que seja milagrosa. Infelizmente, tratamentos simples e efetivos para curar o queloide não existem.

Entretanto, existem várias opções que, quando usadas em conjunto, costumam apresentar uma boa resposta, com amenização importante do aspecto da cicatriz.

Descrevemos a seguir as opções de tratamento mais utilizadas para amenizar as cicatrizes com queloide. Independentemente da opção escolhida, quanto mais cedo o tratamento foi instituído, melhores serão os resultados.

Injeção de corticoides nas lesões

A injeção de um corticoide, geralmente o acetato de triancinolona, é o tratamento mais usado para amenizar os queloides. O seu uso precoce impede as cicatrizes de ficarem muito extensas e ainda ajuda a deixá-las mais planas. As injeções podem ser repetidas a cada 1 ou 2 meses. Uma desvantagem desse tratamento é o fato das injeções serem dolorosas.

Uma nova técnica consiste na aplicação de nitrogênio líquido sobre a cicatriz por 15 segundos, antes da injeção com o corticoide. Desta forma, a dor é menor e a cicatriz torna-se mais mole, facilitando a aplicação do medicamento.

Gel de silicone

A aplicação de gel de silicone na cicatriz, principalmente se iniciada logo nos primeiros dias, ajuda a melhorar a sua aparência. Os melhores resultados parecem ser obtidos com lâminas ou placas de gel de silicone aplicadas como se fossem adesivos. O uso dessas lâminas é diário e deve durar uns 2 ou 3 meses.

Remoção cirúrgica do queloide

Quando o queloide já é antigo, ou se os tratamentos conservadores não funcionarem, a cirurgia torna-se a melhor opção. Na verdade, o objetivo é remover a cicatriz indesejada e tratar a nova de forma bem precoce com corticoides e gel de silicone. Esta técnica consegue ter sucesso em mais de 80% dos casos. A cicatriz nova que surge costuma ter aspecto bem mais agradável que a antiga com queloide.

Radioterapia (betaterapia)

A aplicação de radioterapia, que deve ser iniciada no dia seguinte da cirurgia, é extremamente eficaz, porém a sua segurança a longo prazo ainda é incerta. Aparentemente, a quantidade de radiação é muito baixa e o risco de formação de tumores malignos é pequeno. Apesar de ser uma técnica já bastante usada,  estudos a longo prazo são necessários até que esse tratamento seja considerado plenamente seguro para aplicação em pessoas jovens.

Fluorouracil

O Fluorouracil é uma droga quimioterápica usada no tratamento de alguns tipos de câncer. A sua aplicação diretamente no queloide tem bons resultados, principalmente se associado aos corticoides e terapia com Laser.

Laser

Existem pelo menos quatro tipos de lasers que têm eficácia documentada no tratamento das cicatrizes anormais. São eles:

  • Laser de corante pulsado (PDL).
  • Laser de dióxido de carbono fracionado (fCO2).
  • Laser alexandrite ou Laser díodo.
  • Luz intensa de pulso (IPL).

É habitual que duas ou mais dessas modalidades sejam combinadas para melhorar o resultado.

As indicações para o uso de Laser no tratamento das cicatrizes costumam ser:

  • Cicatrizes hipertróficas imaturas resultantes de cirurgia ou trauma que se apresentam com vermelhidão persistente por mais de um mês, apesar do tratamento preventivo com gel de silicone.
  • Cicatrizes de queimaduras hipertróficas generalizadas que não melhoraram com o tratamento com gel de silicone ou outros tipos de tratamento após 8 a 12 semanas.
  • Queloides pequenos que não melhoraram dentro de 8 a 12 semanas com cobertura de gel de silicone e corticosteroides intralesionais.
  • Queloides grandes que não melhoraram com corticosteroides intralesionais e fluorouracil.

Prevenção

Pessoas com história pessoal ou familiar de queloide devem evitar a todo custo situações que possam gerar cicatrizes. Se você já tem pelo menos um queloide, o mais sensato é evitar, por exemplo, a implantação de piercings, principalmente no nariz ou na orelha, que são áreas muito visíveis do corpo. Cirurgias eletivas ou com propósito exclusivamente coméstico devem ser feitas com muito cuidado, pois o resultado pode ser catastrófico.

Se a cirurgia for inevitável ou se o paciente sofrer algum acidente com trauma profundo da pele, o melhor a se fazer é consultar um dermatologista ou um cirurgião plástico para que as medidas descritas acima possam ser iniciadas precocemente, de forma a impedir o aparecimento de cicatrizes com queloides extensos.


Referências

  • Updated international clinical recommendations on scar management: part 1- evaluating the evidence – American Society for Dermatologic Surgery.
  • Updated international clinical recommendations on scar management: part 2- algorithms for scar prevention and treatment – American Society for Dermatologic Surgery.
  • Laser therapy for hypertrophic scars and keloids – UpToDate.
  • Keloids and hypertrophic scars – UpToDate.
  • Hypertrophic Scarring and Keloids – Medscape.
  • Management of Keloids and Hypertrophic Scars – American Family Physician.
  • Keloids and hypertrophic scars – JAMA.

Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.