Illness name: hipotireoidismo
Description:
O que é hipotireoidismo?
Hipotireoidismo (ou hipotiroidismo) é o nome que se dá quando a glândula tireoide funciona deficientemente, produzindo menos hormônios do que o necessário para o controle do nosso metabolismo.
O hipotiroidismo é a doença mais comum da tiroide e está presente em cerca de 5% da população.
Como funciona a tireoide?
A tiroide (ou tireoide) é uma glândula em forma de borboleta que se localiza na base do pescoço, abaixo da laringe. A tireoide produz dois hormônios: triiodotironina (T3) e tiroxina (T4) , que agem regulando o nosso metabolismo, ou seja, o modo como o corpo usa e armazena energia.
Hipotireoidismo é o nome que se dá quando a glândula tiroide produz uma quantidade insuficiente destes hormônios. Para entender como surge o hipotireoidismo é preciso saber como funciona a tireoide.
O mecanismo explicado abaixo parece complicado, mas não é.
1. Como acabei de explicar, a tireoide produz dois hormônios que controlam nosso metabolismo, chamados T3 e T4.
2. A glândula hipófise, localizada na base do cérebro, controla o grau de produção de T3 e T4 pela tiroide através de um hormônio chamado TSH (em inglês, Hormônio Estimulador da Tireoide).
Quando existe pouco hormônio tireoidiano circulante, a hipófise aumenta a secreção de TSH, dando ordem para haver uma maior produção de T3 e T4 pela tireoide. Quando existe muito hormônio circulante, a hipófise diminui a secreção de TSH, desestimulando a tireoide a produzir T3 e T4. Assim, o organismo consegue manter níveis sempre estáveis de T3 e T4, mantendo o nosso metabolismo controlado.
Vídeo
Antes de seguirmos, assista a esse curto vídeo que explica de forma simples quais são os principais sintomas de uma tireoide doente.
Hipotireoidismo primário e secundário
O Hipotiroidismo pode ser causado por um problema na tireoide que impeça a secreção de seus hormônios (hipotireoidismo primário) ou por um problema na hipófise que iniba a secreção de TSH, inibindo consequentemente a produção de T3 e T4 (hipotireoidismo secundário).
Portanto, hipotireoidismo primário ocorre por defeito na tireoide e hipotireoidismo secundário por defeito na hipófise.
A distinção entre hipotireoidismo primário e secundário é muito fácil, sendo feita através do doseamento do TSH e do T4 no sangue:
- Quando a tiroide tem um problema e começa a produzir pouco hormônio, a hipófise aumenta progressivamente sua produção de TSH para tentar contornar esse déficit. Portanto, no hipotireoidismo primário encontramos o TSH elevado e o T4 baixo.
- Se o problema for central, na hipófise, encontraremos um TSH baixo por falta de secreção e um T4 também baixo por falta de estímulo para sua produção.
95% dos casos de hipotiroidismo são de origem primária. As principais causas são a tireoidite de Hashimoto , a remoção cirúrgica da tireoide (tireoidectomia) e a destruição da glândula por irradiação.
Tireoidite de Hashimoto
A tireoidite de Hashimoto é uma doença autoimune que ocorre por destruição da glândula pelos nossos próprios anticorpos. O Hashimoto é a principal causa de hipotiroidismo, sendo sete vezes mais comum nas mulheres que nos homens.
A tireoidite de Hashimoto ocorre da seguinte maneira:
Por motivos ainda desconhecidos, o nosso organismo passa a produzir anticorpos contra a própria glândula tireoide. O processo de destruição é lento e dura vários anos.
Conforme as células da tiroide vão sendo destruídas, a capacidade da glândula produzir T4 e T3 vai caindo. Notando que há uma queda nos níveis de hormônios tireoidianos, a hipófise aumenta a secreção de TSH, estimulando as células da tireoide que ainda existem a aumentar sua produção de hormônios.
Este aumento do TSH é suficiente para normalizar os níveis de T3 e T4. Por isso, nas fases inicias da tireoidite de Hashimoto o paciente não apresenta sintomas, já que seus níveis sanguíneos de T3 e T4 permanecem normais. Entretanto, nas análises de sangue já conseguimos detectar um TSH mais alto que o normal. Esta fase é chamada hipotireoidismo subclínico (leia: Hipotireoidismo subclínico ).
Conforme mais células vão morrendo, mais TSH vai sendo secretado pela hipófise, até o ponto que as células remanescentes são tão poucas que já não conseguem mais produzir o T3 e T4 necessários para manter um nível sanguíneo desejado. Quando os hormônios da tireoide ficam em níveis baixos, começam a surgir os sintomas do hipotireoidismo.
O nome tiroidite é dado porque a ação dos anticorpos na tiroide causa uma irritação da mesma. É possível que o paciente desenvolva hipertiroidismo nas fases inicias, já que a glândula irritada pode começar a liberar mais hormônios que o desejado. O paciente pode evoluir com hipertireoidismo inicialmente, e só em fases avançadas passar a ter hipotireoidismo.
Sintomas
Os principais sinais e sintomas de uma tireoide pouco funcionante são:
- Aumento do volume da tireoide, chamado bócio.
- Fraqueza, desânimo e cansaço fácil.
- Intolerância ao frio.
- Diminuição do suor.
- Perda de cabelo .
- Ganho leve de peso (hipotireoidismo não leva a grandes ganhos de peso).
- Pele seca.
- Unhas fracas.
- Dor nas articulações.
- Redução do paladar.
- Anemia .
- Síndrome do túnel do carpo .
- Constipação intestinal (prisão de ventre) .
- Aumento do colesterol .
- Alterações da menstruação (para mais ou para menos).
- Infertilidade.
- Disfunção erétil .
- Perda da libido.
- Perda parcial dos pelos da sobrancelha.
- Hipertensão .
- Inchaços (em casos mais graves).
- Coma (em casos graves e não tratados).
O hipotireoidismo leva a ganho de peso, mas não costuma provocar obesidade . É muito comum as pessoas justificarem sua obesidade pelo hipotireoidismo, quando, na verdade, essa condição leva ao ganho de apenas poucos quilos, no máximo 5 ou 6.
Além disso, o ganho de peso é em boa parte por retenção de líquidos e não por ganho de gordura. Ninguém ganha peso suficiente para ficar obeso só porque está com hipotireoidismo. A obesidade só ocorre naqueles pacientes que já se encontravam em situação de sobrepeso anteriormente, já próximo de serem obesos.
Em crianças o hipotireoidismo leva a um quadro de baixo crescimento e retardo mental chamado cretinismo (daí a origem da palavra cretino). Os hormônios tireoidianos são essenciais para o desenvolvimento do cérebro. O teste do pezinho serve para diagnosticar hipotireoidismo nos recém-nascidos.
O hipotireoidismo causado pela remoção ou irradiação da tireoide apresenta os mesmos sintomas do hipotireoidismo causado pela tireoidite de Hashimoto. A diferença é que seu início é abrupto na remoção da tiroide, mas lento e progressivo no Hashimoto.
Outra causa de hipotireoidismo é a carência de iodo, substância necessária para produção dos hormônios. Hoje existe suplementação de iodo no sal de cozinha, sendo esse tipo de hipotireoidismo raro nas áreas urbanas.
Alguns medicamentos, como a amiodarona, interferon e lítio também podem causar alterações no funcionamento da tireoide, causando hipotireoidismo.
Para saber mais detalhes sobre os sintomas do hipotireoidismo, leia: SINTOMAS DO HIPOTIREOIDISMO.
Diagnóstico
O diagnóstico é realizado com a dosagem de TSH, T4 livre e dos anticorpos contra tiroide (anti-TPO e anti-tireoglobulina).
Em geral, o diagnóstico de hipotireoidismo é dado aos pacientes com sintomas de hipotiroidismo que tenham TSH maior que 4 mU/L.
Existe ainda o grupo que cai na definição de hipotireoidismo subclínico, ou seja, TSH maior que 4 mU/L, mas sem sintomas da doença. Neste último caso, o tratamento só é necessário caso o paciente tenha colesterol elevado, TSH maior que 10 mU/L, caso a paciente esteja grávida, ou se tiver os anticorpos contra tireoide positivos (anti-TPO e anti-tireoglobulina).
A presença de anti-TPO ou anti-tireoglobulina em um paciente com hipotireoidismo indica que a causa é a doença de Hashimoto (leia: ANTICORPOS CONTRA TIREOIDE: anti-TPO, TRAb e anti-tireoglobulina ).
Hoje, graças à identificação dos hipotireoidismos subclínicos, já somos capazes de diagnosticar a doença antes dela apresentar sinais clínicos. Uma das primeiras alterações é a elevação do colesterol, que pode preceder em anos o início do hipotireoidismo franco.
Atenção, não existe hipotiroidismo com análises normais. Se você pensa que tem sintomas de hipotiroidismo, mas seu TSH e T4 são normais, as suas queixas têm outra causa.
Todos os pacientes acima de 50 anos devem ter seu TSH dosado, mesmo que não apresentem nenhum sintoma de hipotireoidismo. Se houver história familiar positiva, o rastreio pode começar aos 35 anos, principalmente nas mulheres.
Tratamento
Não existe cura para a doença de Hashimoto, mas felizmente já existem hormônios tireoidianos sintéticos. O tratamento do hipotiroidismo consiste na simples administração diária destes. A droga usada normalmente é a Levotiroxina (Puran®, Synthroid®, Letter®), que é um T4 sintético (leia: LEVOTIROXINA (Puran T4) – Indicações, Doses e Efeitos Colaterais ).
A Levotiroxina é administrada uma vez por dia e deve ser tomada sempre com estômago vazio (1 hora antes de comer ou 2 horas depois). O objetivo do tratamento é manter o TSH na faixa de normalidade, que varia entre 0,4 e 4,0 mU/L. Para isso o seu médico pode ter que alterar as doses do medicamento ocasionalmente.
As dosagens dos comprimidos de levotiroxina são em microgramas e não em miligramas, como a maioria dos remédios. Por isso, a levotiroxina não deve ser feita em farmácia de manipulação, para que não haja erros na dosagem.
Os sintomas costumam regredir já com duas semanas de tratamento. O objetivo é manter o paciente com TSH normal e livre de sintomas.
O tratamento é feito por toda vida e não pode ser interrompido.
Tratamento do hipotiroidismo subclínico
Não há dúvidas de que pacientes com TSH elevado e sintomas de hipotiroidismo devam ser tratados com reposição de hormônios. A dúvida surge nos casos de hipotiroidismo subclínico.
Neste grupo, o tratamento só é habitualmente necessário caso o paciente tenha colesterol elevado, TSH maior que 10 mU/L, caso a paciente esteja grávida, ou se tiver os anticorpos contra tireoide positivos (anti-TPO e anti-tireoglobulina).
Perguntas e respostas
O que é o bócio?
O bócio, também conhecido como papo, é um abaulamento da região do pescoço causado pelo aumento do volume da tireoide. O bócio pode surgir nos casos de hipotireoidismo, hipertireoidismo ou nódulos da tireoide.
Quais são os sintomas do bócio?
O bócio em si só provoca sintomas se estiver realmente muito grande e conseguir comprimir as estruturas anatômicas do pescoço. Mas para isso ocorrer, ele precisa ser realmente volumoso. Bócios, como o da foto acima, por exemplo, não são grandes o suficiente para causar sintomas compressivos, tais como rouquidão ou dificuldade para engolir ou respirar.
Quais são as principais causas de hipotireoidismo?
A causa mais comum de hipotireoidismo é a tireoidite de Hashimoto. Outras causas incluem deficiência de iodo, retirada cirúrgica da tireoide e destruição da tireoide por radiação, como nos casos de tratamento do hipertireoidismo.
Tenho engordado muito nos últimos anos e me sinto sem disposição. Isso pode ser hipotireoidismo?
Pode, mas muitas vezes é apenas reflexo de um estilo de vida sedentário. A má alimentação e a falta de exercícios físicos causam ganhos de peso e uma sensação de preguiça permanente.
O ganho de peso relacionado ao hipotireoidismo costuma estar mais relacionado à retenção de líquidos do que ao acúmulo de gordura. Como já explicado, é muito raro o hipotireoidismo causar obesidade e a maioria dos pacientes com sobrepeso e disfunção da tireoide não notam uma grande alteração no percentual de gordura após o controle do hipotireoidismo.
Quais são os valores normais de TSH?
O limite inferir e superior do TSH costumam variar entre laboratórios, mas são geralmente ao redor de 0,5 mU/L e 4,5 mU/L.Valores abaixo de 0,5 mU/L sugerem hipertireoidismo; valores acima de 4,0 ou 4,5 mU/L sugerem hipotireoidismo.
O que é hipotireoidismo subclínico?
Chamamos hipotireoidismo subclínico quando o paciente apresenta um TSH elevado, T4 livre normal e ausência de sintomas de hipotireoidismo.
Mais da metade dos pacientes com hipotireoidismo subclínico costuma desenvolver hipotireoidismo de fato em um período de 10 a 20 anos.
O que são os anticorpos anti-tireoglobulina e anti-TPO?
A anti-tireoglobulina e anti-TPO são auto-anticorpos que o nosso organismo produz inapropriadamente contra a tireoide. Estão presentes em praticamente todos os casos de tireoidite de Hashimoto.
Pacientes com hipotireoidismo subclínico, mas com altos títulos desses anticorpos, apresentam um elevado risco de evoluírem para o hipotireoidismo clínico.
O hipotireoidismo pode causar dificuldade em engravidar?
Sim, o hipotireoidismo altera o ciclo menstrual podendo causar infertilidade. E mesmo que a paciente consiga engravidar, o hipotireoidismo aumenta o risco de aborto.
Nos homens, o hipotireoidismo pode causar infertilidade por alterar a morfologia dos espermatozoides.
Hipotireoidismo causa impotência sexual em homens?
Sim, além de causar diminuição da libido e dificuldade em ejacular.
Quanto tempo dura o tratamento do hipotireoidismo?
Na imensa maioria dos casos, o tratamento é por tempo indefinido. São raros os pacientes com hipotireoidismo que se curam com o tempo.
Qual é o melhor horário para se tomar a levotiroxina?
Em jejum, antes do café da manhã.
O tratamento do hipotireoidismo ajuda a controlar o colesterol alto?
Sim, mas geralmente os melhores resultados ocorrem naqueles que tem TSH maior 10 mU/L.
Tenho vários sintomas de hipotireoidismo, mas os valores de TSH e T4L estão normais. Posso ter hipotireoidismo mesmo assim?
Não. Se T4L e TSH estão normais, os seus sintomas têm outra causa. Nestes casos, não adianta usar levotiroxina, pois não há falta de T4 no sangue.
Referências
- Clinical manifestations of hypothyroidism – UpToDate.
- Diagnosis of and screening for hypothyroidism in nonpregnant adults – UpToDate.
- Treatment of primary hypothyroidism in adults – UpToDate.
- Hypothyroidism (Underactive) – American Thyroid Association.
- Hypothyroidism – U.S. National Library of Medicine – NIH.
- Hypothyroidism (Underactive Thyroid) – The National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases.
- Hypothyroidism – Medscape.
- Hypothyroidism. In: Harrison’s Principles of Internal Medicine. 20th ed. New York, N.Y.: The McGraw-Hill Companies; 2018.
Autor(es)
Dr. Pedro Pinheiro
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.