Illness name: pancreatite

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Índice
1. O que é a pancreatite?
2. Quais são as funções do pâncreas?
3. Pancreatite aguda
3.1. Causas
3.2. Sintomas
3.3. Diagnóstico
3.4. Tratamento
4. Pancreatite crônica
4.1. Sintomas
4.2. Tratamento
5. Referências

O que é a pancreatite?

Pancreatite é o termo usado para descrever a inflamação do pâncreas, órgão localizado no abdômen e que faz parte dos sistemas endócrino e gastrointestinal.

Quando a inflamação do pâncreas ocorre de modo súbito, ou seja, agudamente, estamos diante de uma pancreatite aguda. Quando a inflamação é recorrente e há sinais de lesão persistente do pâncreas, chamamos de pancreatite crônica.

Quais são as funções do pâncreas?

O pâncreas é uma grande glândula de formato achatado, com mais ou menos 20 cm de comprimento, localizado no abdômen, logo atrás do estômago. Apresenta íntima ligação com as vias biliares e o com duodeno (parte inicial do intestino delgado).

O pâncreas possui duas funções básicas: participa do processo de digestão de alimentos e produz hormônios importantes no controle da glicemia (taxa de glicose do sangue), como a insulina e o glucagon.

O órgão produz enzimas que auxiliam no processo da digestão de proteínas, gorduras e carboidratos. Essas enzimas digestivas, diluídas em uma solução chamada de suco pancreático, são lançadas diretamente no duodeno onde encontrarão os alimentos recém saídos do estômago. O suco pancreático também é rico em bicarbonato, que serve para neutralizar a acidez dos alimentos vindos do estômago, que possuem um pH muito baixo.

Anatomia do pâncreas

Do mesmo modo que a alimentação estimula a produção do suco pancreático para auxiliar na digestão dos nutrientes, ela também induz a produção de hormônios, que são lançados na corrente sanguínea. Os dois principais hormônios sintetizados pelo pâncreas são a insulina e glucagon, produzidos por um grupo de células chamado de ilhotas de Langerhans .

A insulina é o hormônio que permite que as células captem a glicose do sangue e a use como fonte de energia. O principal estímulo para a produção de insulina é o aumento dos níveis sanguíneos de glicose que ocorre geralmente após as refeições. Quando a glicose do sangue se eleva, a insulina produzida no pâncreas é liberada para a corrente sanguínea, permitindo que as células consigam captar a glicose que está chegando, vinda dos alimentos.

Se por algum motivo não houver insulina, não há como as células consumirem a glicose presente no sangue, permanecendo, assim, a taxa sanguínea de glicose constantemente elevada. Este processo dá origem à famosa diabetes mellitus (leia: O QUE É DIABETES? ).

O glucagon é um hormônio antagonista da insulina, ou seja, faz a função inversa. Quando os níveis de glicose estão muitos baixos, o pâncreas impede a liberação de insulina e estimula a produção de glucagon, que além de impedir a captação da glicose pelas células, age no fígado, estimulando a produção de glicose pelo mesmo.

Quando os níveis de glicose voltam a subir, os níveis de glucagon começam a cair e os de insulina voltam a subir novamente. Deste modo, o pâncreas consegue manter nossa taxa glicemia sempre na faixa entre 60mg/dl a 140 mg/dl, mesmo após as refeições.

Pancreatite aguda

As enzimas digestivas produzidas no pâncreas só se tornam ativas após chegarem ao duodeno. A pancreatite ocorre quando por algum motivo, essas enzimas se ativam quando ainda estão dentro do pâncreas, fazendo com que o mesmo comece a ser digerido.

Causas

Em mais de 75% dos casos, a pancreatite aguda ocorre por abuso de bebidas alcoólicas (leia: EFEITOS DO ÁLCOOL E ALCOOLISMO ) ou por uma pedra da vesícula, que fica presa na saída do ducto pancreático, impedindo a drenagem das enzimas para o duodeno (leia: PEDRA NA VESÍCULA E COLECISTITE ).

Outras causas menos comuns de pancreatite aguda incluem:

  • Hipertrigliceridemia – a pancreatite pode ocorrer quando os níveis de triglicerídeos ficam muito elevados, ultrapassando a barreira dos 1000 mg/dl (leia: O QUE SÃO OS TRIGLICERÍDEOS? ).
  • Hipercalcemia – níveis elevados de cálcio sanguíneo também podem causar pancreatite aguda. .
  • Drogas – alguns medicamentos, como azatioprina, corticoides, pentamidina, metronidazol, clomifeno, pravastatina, ácido valproico, omeprazol, losartan, tamoxifeno, isoniazida, furosemida e enalapril já foram descritos como causas de pancreatite. Também é bem conhecida a relação entre consumo de cocaína ou maconha com a ocorrência de pancreatite aguda.
  • HIV (leia: SINTOMAS DO HIV E AIDS (SIDA) ) e outras infecções como citomegalovirose, caxumba, salmonelose, amebíase, toxoplasmose, etc., também podem atacar o pâncreas.
  • Traumas abdominais.
  • Malformações do pâncreas.
  • Fibrose cística.
  • Lúpus eritematoso sistêmico (leia: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO ).
  • Idiopático – em alguns casos não se consegue identificar nenhum fator para a pancreatite.

Sintomas

O sintoma universal da pancreatite aguda é a dor abdominal. A dor costuma se localizar difusamente na parte superior do abdômen, podendo irradiar para as costas. Normalmente é uma dor desencadeada e agravada pela alimentação. Ao contrário da cólica biliar que também costuma surgir após alimentação e dura de 6 a 8 horas, a dor da pancreatite aguda pode durar vários dias (leia: DOR NA BARRIGA | DOR ABDOMINAL | Principais causas ). Outra característica da dor da pancreatite aguda é o alívio parcial quando o paciente curva-se para frente.

A dor costuma vir acompanhada de náuseas e vômitos em 90% dos casos e pode ser tão intensa que o paciente rapidamente procura atendimento médico. Porém, existem casos de pancreatite aguda com dor não tão intensa,o que muitas vezes dificulta o diagnóstico, pois o paciente demora a procurar ajuda médica.

A pancreatite aguda alcoólica é mais comum nos indivíduos que bebem cronicamente e costuma surgir dentro de 24 e 72 horas após um episódio de consumo excessivo de álcool.

A pancreatite aguda em mais de 80% dos casos se cura com o tempo e com apoio médico. Em certos pacientes, entretanto, ela pode se transformar em uma emergência médica. Em alguns casos mais graves, a inflamação pode ser tão intensa que se espalha por todo o organismo, levando o paciente a um quadro de choque circulatório e falência múltipla dos órgãos.

Diagnóstico

O diagnóstico da pancreatite costuma ser feito com a dosagem sanguínea de duas enzimas pancreáticas que se encontram muito elevadas nos casos de inflamação do pâncreas: amilase e lipase.

A tomografia computadorizada (TC) é um exame complementar importante, não só para ajudar no diagnóstico dos casos duvidosos, mas também para avaliar a presença de complicações, como necrose e abscessos no pâncreas. Através dos achados na TC gradua-se alfabeticamente a gravidade da pancreatite de A a E, sendo A o quadro mais leve e E um quadro grave com sinais de complicações.

A ressonância magnética nuclear (RMN) pode ser usada no lugar da TC (leia: RESSONÂNCIA MAGNÉTICA – Riscos, Contraindicações e Vantagens ). A ultrassonografia é muito inferior a TC e a RNM para avaliar problemas no pâncreas.

Tratamento

Em geral, todo paciente com pancreatite aguda deve permanecer internado. Se o caso for leve a moderado, a resolução é espontânea. Administra-se soros e controla-se a dor.

Neste período inicial, o paciente deve se manter em jejum total por no mínimo 3 a 7 dias, uma vez que a alimentação estimula a produção das enzimas pancreáticas que acabam por lesar ainda mais o pâncreas.

Para o paciente não desnutrir, faz-se necessária a alimentação enteral. Para tal, introduzimos uma sonda até o intestino delgado fazendo com que a comida só chegue aos intestinos após o duodeno, não havendo assim estímulo à produção de enzimas pancreáticas. Se mesmo com a nutrição enteral o paciente apresentar sinais de atividade da pancreatite, a solução é a alimentação parenteral, administrada pelas veias.

Conforme o pâncreas vai se regenerando, a alimentação por via oral pode ser reintroduzida lentamente.

Se a causa da pancreatite aguda for obstrução por cálculos biliares, os mesmos devem ser retirados por via cirúrgica ou endoscópica. Como a recorrência da pancreatite aguda por cálculos biliares chega a 50%, o mais indicado é a remoção da vesícula, o que torna a formação de novos cálculos um evento incomum.

Em casos mais graves, com infecção e/ou necrose extensa do pâncreas, antibióticos e cirurgia para retirada do tecido morto podem ser necessários. Como já citado anteriormente, às vezes, o quadro é tão intenso que o doente desenvolve choque circulatório, complicações renais e pulmonares, necessitando ficar internado em uma UTI (leia: ENTENDA O QUE ACONTECE COM OS PACIENTES NA UTI ).

Pancreatite crônica

Se o quadro de pancreatite aguda for muito extenso ou se o paciente apresenta repetidos episódios de pancreatite aguda, esta inflamação intensa e repetida pode causar lesão irreversível do tecido pancreático, levando ao que chamamos de pancreatite crônica.

A principal causa de pancreatite crônica é o consumo exagerado e prolongado de álcool. Porém, qualquer situação que imponha quadros repetidos de pancreatite aguda pode levar à lesão permanente do pâncreas.

Sintomas

Assim como na pancreatite aguda, o principal sintoma da pancreatite crônica é a dor abdominal. Todavia, na doença crônica a dor é recorrente e não desaparece após alguns dias. O paciente costuma estar muito emagrecido, pois alimenta-se mal, já que o ato de comer exacerba a dor. A dor costuma surgir após as refeições e dura em média 30 minutos.

A dor na pancreatite crônica costuma ser menos intensa que na pancreatite aguda e até 20% dos pacientes referem sentir pouca ou nenhuma dor. Porém, é possível haver períodos de agudização da pancreatite crônica, principalmente se o paciente continuar a beber. O paciente pode conviver mais ou menos bem com a sua pancreatite crônica, mas quando bebe, apresenta crises semelhantes as da pancreatite aguda.

Conforme a doença progride, como há lesão permanente do tecido do pâncreas, este começa a diminuir progressivamente a sua capacidade de produzir as enzimas responsáveis pela digestão dos alimentos. Com isso, mesmo que a dor não impeça a alimentação, o paciente não consegue digerir o alimento para poder absorvê-lo, acabando por emagrecer do mesmo modo.

Quando mais de 90% do tecido pancreático encontra-se lesionado o paciente perde completamente a capacidade de absorver as gorduras da dieta, surgindo um quadro de diarreia gordurosa, chamado de esteatorreia. A esteatorreia é caracterizada por fezes misturadas com gotas de gordura.

Seguindo o mesmo raciocínio, o pâncreas também torna-se incapaz de produzir insulina e glucagon, levando o paciente a um quadro de diabetes mellitus (leia: SINTOMAS DO DIABETES ).

Outras complicações da pancreatite crônica incluem a formação de cistos ao redor do pâncreas, obstrução das vias biliares e ascite (leia: O QUE É ASCITE? ).

Pacientes portadores de pancreatite crônica apresentam maior risco de desenvolverem câncer do pâncreas.

Tratamento

O tratamento da pancreatite crônica visa o controle da dor e dos sintomas da falência pancreática. É imperativo suspender o consumo de álcool. A dieta deve ser controlada, evitando alimentos gordurosos, que são os que mais estimulam o aparecimento da dor.

Pacientes com síndrome de má absorção precisam tomar suplementos com enzimas pancreáticas. Doentes com diabetes precisam de insulina.

Em casos onde a dor não consegue ser aliviada com drogas, a cirurgia do pâncreas pode ser necessária. Em geral, não há cura para a pancreatite crônica. Como já referido, o tratamento visa dar qualidade de vida ao paciente.


Referências

  • Clinical manifestations and diagnosis of acute pancreatitis – UpToDate.
  • Etiology of acute pancreatitis – UpToDate
  • Etiology and pathogenesis of chronic pancreatitis in adults – UpToDate
  • Acute Pancreatitis – Medscape.
  • Chronic Pancreatitis – Medscape.
  • Sleisenger and Fordtran’s Gastrointestinal and Liver Disease: Pathophysiology, Diagnosis, Management. 10th ed. Philadelphia, Pa.: Saunders Elsevier; 2016.
  • Goldman- Cecil Medicine. 25th ed. Philadelphia, Pa.: Saunders Elsevier; 2016.

Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.