Illness name: escarlatina
Description:
O que é escarlatina?
A escarlatina é um quadro de rash de pele (manchas avermelhadas) por quase todo o corpo, que ocorre em algumas pessoas após episódio de amigdalite e/ou faringite provocado pela bactéria Streptococcus pyogenes .
A escarlatina ocorre com mais frequência em crianças em idade escolar, mas pode eventualmente acometer adultos também.
A escarlatina já não é tão comum como há um século, quando estava associada a epidemias mortais. O desenvolvimento de antibióticos e seu uso precoce no tratamento das infecções estreptocócicas preveniram muitos casos de escarlatina e suas complicações de longo prazo, como abscessos, glomerulonefrites e febre reumática.
A bactéria Streptococcus pyogenes , também chamada de Estreptococo beta hemolítico do grupo A, é a mesma bactéria que provoca outras infecções comuns, tais como:
- Faringite ou amigdalite bacteriana .
- Erisipela .
- Impetigo .
- Glomerulonefrite pós-infecciosa aguda.
- Febre reumática .
Como surge
A escarlatina é um quadro que surge devido a uma reação tardia do organismo a toxinas produzidas pela S. pyogenes , geralmente 2 a 7 dias após o início de um episódio de faringite ou amigdalite bacteriana. A escarlatina também pode surgir após um episódio de impetigo ou erisipela, mas essa forma é mais rara.
A escarlatina só ocorre em cerca de 10% das faringites por Streptococcus pyogenes porque nem todas as pessoas apresentam sensibilidade às toxinas produzidas pela bactéria. É perfeitamente possível haver em uma mesma casa um irmão que desenvolva escarlatina e outro que tenha apenas um quadro simples de amigdalite. Tudo depende da forma com a qual o sistema imunológico de cada indivíduo reage à presença das toxinas produzidas pelo Estreptococo.
Nas pessoas sensíveis à ação das toxinas do S. pyogenes ocorre uma reação inflamatória na pele que manifesta-se tipicamente com exuberantes manchas vermelhas por todo o corpo, sinal mais típico da escarlatina.
A escarlatina é mais comum nas crianças com idades entre 5 e 15 anos. Entre os adolescentes, mais de 80% já tiveram contato com a bactéria e possuem anticorpos contra as toxinas, motivo pelo qual a escarlatina é pouco comum nos adultos e não costuma surgir mais de uma vez na vida.
Transmissão
O Streptococcus pyogenes costuma ser transmitido de uma pessoa para outra através do contato com secreções das vias respiratórias. Entre as formas possíveis de transmissão da bactéria estão a tosse, o espirro e o contato com saliva, que pode ser através do beijo, de gotículas durante a fala ou pelo compartilhamento de copos ou talheres.
A transmissão através de mãos contaminadas com secreções respiratórias também é muito comum, sendo a higienização adequada e frequente das mãos uma importante medida de controle da transmissão (leia: POR QUE LAVAR AS MÃOS AJUDA A EVITAR DOENÇAS? ). Toalhas, roupa de cama e roupas pessoais também podem ser fonte de transmissão.
A bactéria Streptococcus pyogenes é extremamente contagiosa. Apenas 12 horas após ter sido contaminado, o indivíduo já é capaz de transmiti-la para outras pessoas, mesmo que ainda não tenha desenvolvido qualquer sintoma. O período de contágio costuma terminar 12 horas após o fim da febre ou 24 horas após o início do tratamento com antibióticos.
Como já referido, apenas uma pequena fração das pessoas que entram em contato com o Estreptococo beta hemolítico do grupo A acaba desenvolvendo escarlatina. O fato da bactéria ser altamente contagiosa não significa, porém, que necessariamente todo mundo que foi contaminado ficará doente.
Falamos especificamente da faringite estreptocócica no artigo: Faringite Estreptocócica – Sintomas, Diagnóstico e Tratamento .
Sintomas
O período de incubação da escarlatina é de 2 a 7 dias. O início do quadro costuma ser abrupto, com inflamação na garganta, dores pelo corpo e febre acima de 38,5ºC.
Aumento dos gânglios do pescoço, dor de cabeça, dor abdominal, náuseas e vômitos também podem estar presentes. 12 a 24 horas após o início do quadro, surge o sinal característico da doença, que é o rash cutâneo.
São quatro os sinais típicos da escarlatina:
- Rash cutâneo.
- Linhas de Pastia (linhas avermelhadas nas dobras cutâneas).
- Lingua em framboesa (ou morango).
- Face avermelhada com palidez ao redor dos lábios.
Rash cutâneo
O rash da escarlatina normalmente inicia-se na cabeça ou pescoço e desce pelo corpo ao longo das horas seguintes, em padrão de dispersão chamado craniocaudal. As palmas das mãos e as plantas dos pés costumam ser poupados.
O acometimento da pele pela escarlatina caracteriza-se pelo aparecimento de numerosas erupções avermelhadas de 1 a 2 mm, com discreto relevo, que podem dar à pele uma textura áspera, semelhante a uma lixa.
Além de serem muito avermelhadas, as lesões da escarlatina costumam se tornar transitoriamente pálidas quando pressionamos a pele com o dedo. Alguns pacientes queixam-se de coceira, mas isso não ocorre em todos os casos.
Após uma semana de rash cutâneo, as manchas avermelhadas começam a desaparecer, ocorrendo uma descamação, principalmente nas mãos, pés, virilhas e axilas.
Linhas de Pastia
As lesões do rash costumam se aglomerar nas áreas de dobras, como axilas, virilhas, atrás dos joelhos, pescoço e prega do cotovelo, formando linhas bem avermelhadas nestas regiões, que recebem o nome de linhas ou sinal de Pastia.
Língua em framboesa
Outro achado característico é a chamada língua em framboesa ou em morango. Esse sinal é assim chamado porque a língua fica inchada, avermelhada e com as papilas gustativas muito evidentes, tornado-se parecida com as frutas que lhe dão nome.
Em alguns pacientes, a língua pode ter uma capa esbranquiçada no início do quadro, ficando mais avermelhada somente após alguns dias. A língua em framboesa pode surgir antes ou depois do aparecimento das erupções na pele.
P alidez ao redor dos lábios
Face avermelhada, com palidez nas regiões ao redor dos lábios, também chamada de sinal de Filatov, é outra manifestação típica da escarlatina que pode ocorrer em alguns pacientes.
Para ver mais imagens dos sinais típicos da escarlatina, acesse o seguinte link: Fotos de escarlatina .
Diagnóstico
O diagnóstico da escarlatina é normalmente feito clinicamente, através do exame físico, pois a história de dor de garganta associada ao rash típico é bem característica.
Se houver dúvidas, o médico pode colher amostras da orofaringe para pesquisa do Streptococcus pyogenes .
Complicações
Até o início do século XX, a escarlatina era considerada uma infecção grave, pois não havia tratamento adequado e as complicações eram muito comuns. A mortalidade chegava a ser de 20%.
Com o advento dos antibióticos, porém, a taxa de complicações despencou, tornando a escarlatina uma doença com ótimo prognóstico. Atualmente, a taxa de mortalidade é menor que 1%.
Quando não tratada, a escarlatina pode complicar com formação de abcesso na garganta ou infecções nos pulmões, rins, coração, ouvidos ou sistema nervoso.
A febre reumática e a glomerulonefrite pós-estreptocócica são complicações raras atualmente, mas que ocorriam com relativa frequência no passado.
Tratamento
O tratamento da escarlatina é feito com antibióticos, de forma a eliminar o Estreptococo beta hemolítico do grupo A e, consequentemente, interromper a produção das toxinas que provocam as reações na pele.
Além de curar os sintomas, o tratamento com antibiótico também é importante para reduzir o risco de transmissão da bactéria para outras pessoas e reduzir o risco do paciente desenvolver as complicações citadas acima.
Os antibióticos de escolha para o tratamento da escarlatina são a penicilina V ou a amoxicilina . O tempo de tratamento indicado é 10 dias.
Uma opção com posologia mais simples é a penicilina benzatina , que é administrada por via intramuscular em dose única.
Nos pacientes alérgicos à penicilina, a eritromicina é uma alternativa viável (leia: ALERGIA À PENICILINA ).
Pontos-chave do artigo
Transmissão: a escarlatina é uma infecção contagiosa que pode ser transmitida de uma pessoa à outra através das secreções respiratórias, principalmente da saliva.
Sintomas: a escarlatina costuma se manifestar clinicamente com dor de garganta, febre e erupções avermelhadas na pele (rash cutâneo).
Tratamento: é feito com antibióticos para eliminar o Streptococcus pyogenes e, consequentemente, interromper a produção das toxinas que provocam as reações na pele.
Referências
- Scarlet Fever: All You Need to Know – Centers for Disease Control and Prevention (CDC).
- Rheumatic Fever, Autoimmunity, and Molecular Mimicry: The Streptococcal Connection – International Reviews of Immunology.
- Complications of streptococcal tonsillopharyngitis – UpToDate.
- Scarlet Fever – StatPearls.
- Managing scarlet fever – British Medical Journal.
- Ferri FF. Scarlet fever. In: Ferri’s Clinical Advisor 2018. Philadelphia, Pa.: Elsevier; 2018.
Autor(es)
Dr. Pedro Pinheiro
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.