Illness name: desmaio sincope

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Índice
1. O que é o desmaio?
2. Situações que podem ser confundidas com síncope (desmaio)
3. Como ocorre o desmaio – Importância do nervo vago
4. Principais causas de desmaios (síncope)
4.1. Síncope vasovagal
4.2. Hipotensão postural
4.3. Arritmias cardíacas
4.4. Outras doenças cardíacas

O que é o desmaio?

O desmaio é um sintoma relativamente comum. Pode indicar problemas cardíacos, problemas neurológicos, uma queda súbita da pressão arterial, hipoglicemia (falta de açúcar no sangue)  ou apenas uma manifestação de excesso de ansiedade ou histeria, também conhecida como transtorno conversivo.

O desmaio é cientificamente chamado de síncope e pode ser descrito como uma abrupta perda da consciência, associada à perda do tônus postural (perda da capacidade de permanecer em pé), seguida de uma rápida e completa recuperação. Ou seja, a pessoa perde a consciência e cai, acordando logo a seguir sem sequelas. A síncope não é uma doença, é um sintoma de alguma doença.  A causa mais comum é a chamada reação vagal ou síncope vasovagal, relacionada à ativação inapropriada do nervo vago (explicaremos ao longo do texto).

Se você tem quadros de tonturas, sensação de que vai cair por perda da força, mas em momento algum perde a consciência, isso é chamado de pré-síncope.

Quando a síncope é um evento isolado na vida da pessoa, em geral, as causas são benignas. Porém, se o paciente apresenta quadros repetidos de síncope ao longo de vários dias ou semanas, o mais provável é que haja alguma doença por trás, habitualmente de origem neurológica ou cardíaca.

Situações que podem ser confundidas com síncope (desmaio)

Antes de falarmos especificamente sobre as causas de desmaios, é importante saber diferenciar as síncopes de eventos graves, como AVC (leia: AVC | ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL | DERRAME CEREBRAL ), paradas cardíacas ou morte súbitas.

No AVC, também conhecido como derrame cerebral, o doente pode até apresentar uma queda por perda de força dos membros inferiores, mas, em geral,  ele não desmaia, ou seja, não perde a consciência. Nos casos de AVC que ocorrem perda da consciência, a recuperação não é rápida e quase nunca completa. Se o paciente desmaia e posteriormente acorda apresentando sequelas, tais como paralisia dos membros, boca torta, desorientação ou incapacidade de falar, isso é um AVC e não uma síncope.

Na parada cardíaca, também chamada de morte súbita, o paciente perde a consciência, cai e permanece no chão sem respirar e sem pulso (sem batimentos cardíacos perceptíveis). Se não forem imediatamente iniciadas as manobras de ressuscitação, o paciente evolui para o óbito. Uma parada cardio-respiratória, obviamente, não é um desmaio.

É muito importante também diferenciar as síncopes verdadeiras das histerias ou simulações, que recebem vários nomes na prática médica: distúrbio neurovegetativo, transtorno conversivo ou disfunção autonômica somatóforme. Não são síncopes reais e o paciente muitas vezes realiza estas simulações de modo inconsciente. Ele realmente acredita que desmaiou.

Outra situação que pode ser confundida com síncope é uma crise epilética. Às vezes, a distinção é difícil em um primeiro momento, principalmente se a crise não tiver sido testemunhada por ninguém.

Em geral, o paciente com crise epilética não se recupera tão rapidamente após retomar a consciência. Muitas vezes, o indivíduo apresenta crises convulsivas não testemunhadas e só é encontrado caído no chão, já acordado, mas meio desorientado, com poucas forças. A presença de mordidas na língua, o fato do doente ter as roupas sujas de urina ou fezes, e múltiplas lesões no corpo sugerem que ele tenha tido uma crise convulsiva e não um simples desmaio (leia mais sobre epilepsias: EPILEPSIA | CRISE CONVULSIVA | Sintomas, tipos e como proceder ).

A principal característica da síncope é o fato do paciente desmaiar e acordar logo em seguida de forma espontânea. Entretanto, se durante a queda o paciente bater a cabeça com força no chão ou em alguma quina ou objeto duro, ele pode não acordar imediatamente por conta do traumatismo craniano. Neste caso, o paciente apresenta síncope seguida de concussão cerebral.

Como ocorre o desmaio – Importância do nervo vago

Antes de descrever com mais detalhes cada uma das principais causas, é preciso explicar um pouco da fisiologia do corpo humano para uma melhor compreensão da origem da síncope, principalmente daquela que chamamos de síncope vasovagal.

O sistema nervoso autônomo é a parte do sistema nervoso que controla funções básicas e vitais, tais como a respiração, pressão arterial, controle de temperatura e digestão, apenas para ficarmos com alguns exemplos.

O sistema nervoso autônomo é dividido em duas partes: Sistema nervoso simpático e Sistema nervoso parassimpático . Esses dois sistemas se antagonizam e o equilíbrio de suas funções é que mantém o organismo funcionando adequadamente. Por exemplo, o sistema nervoso simpático aumenta a pressão, acelera os batimentos cardíacos e nos deixa mais alerta, enquanto que o sistema nervoso parassimpático reduz a pressão arterial e desacelera o coração.

O nervo vago carrega fibras do sistema nervoso parassimpático. Este nervo, que nasce dentro cérebro e envia ramos para várias partes do corpo, inerva diversos órgãos, como o coração, estômago, laringe, pulmão, esôfago, intestinos, pele, etc. É através dele que o cérebro recebe as informação do estado das nossas vísceras. O nervo vago também é responsável pelo controle de algumas das funções destes órgãos, como a produção de suor, a frequência cardíaca, a pressão arterial, movimentos dos intestinos e da musculatura do pescoço e da boca.

Muitas causas de desmaios têm origem na ativação inadequada do nervo vago, o que leva à queda da pressão arterial e desaceleração dos batimentos cardíacos.

Principais causas de desmaios (síncope)

Existem várias causas para o desmaio. Em muitos casos, a origem é apenas um excesso de emoção, calor intenso, nervosismo, etc. Porém, algumas doenças também podem se manifestar através de desmaios frequentes.

A síncope ou desmaio é um evento que causa muita apreensão no paciente e nas pessoas que testemunham o fato. Muitas vezes, o desmaio é também um desafio diagnóstico para o médico. Em muitos casos, mesmo após extensa investigação, não conseguimos identificar a origem do problema. Até 1/3 dos casos de síncope ficam sem diagnóstico definitivo.

Boa parte das síncopes ocorrem por causas benignas, porém, todo episódio deve ser investigado pensando que os desmaios podem ser uma manifestação de uma patologia grave e potencialmente fatal.

A síncope ou desmaio tem várias causas, sendo as principais os ataques vaso-vagais e causas cardíacas. A seguir, vamos explicar a origem das principais causas de desmaio clinicamente relevantes.

Síncope vasovagal

Uma anormal estimulação do nervo vago pode levar a grandes desacelerações do coração e à uma abrupta queda da pressão arterial, diminuindo temporariamente o aporte de sangue e oxigênio para o cérebro. Esse tipo de desmaio ocorre normalmente em pessoas jovens e sem outras doenças. A síncope vasovagal é normalmente precedida de sintomas como suores frios, palidez e escurecimento súbito da visão.

A síncope vasovagal pode ser induzida por dor intensa, calor forte, por ficar em pé durante muito tempo, por medo ou estados de ansiedade intensa. É a causa de desmaios naqueles que tem pavor de agulha e precisam colher sangue, dos jovens em shows de música, ou de cirurgiões ou guardas que ficam muito tempo em pé sem se movimentar.

Em muitos casos, o estímulo vagal pode não ser suficiente para causar desmaios, levando apenas à mal estar, tonturas, enjoos e vômitos. O paciente senta-se ou deita-se e depois de alguns minutos sente-se melhor.

Apesar de ocorrer preferencialmente em jovens, alguns idosos podem apresentar repetidos episódios de síncope vasovagal, muitas vezes sem um fator desencadeante claro, como os citados acima. Em alguns desses pacientes, o estimulo desencadeador pode ser algo simples como urinar ou tossir.

Existe também aqueles com a chamada hipersensibilidade do seio carotídeo, uma região do pescoço onde passam as fibras do nervo vago. Nestes, uma simples massagem na região lateral do pescoço pode estimular o nervo vago e levar à síncope. São pessoas que podem desmaiar com um simples virar mais rápido do pescoço ou mesmo durante pequenos esforços, como evacuar ou assoprar contra uma resistência.

Apenas como curiosidade, a estimulação do nervo vago pode ser feita de forma proposital para fins médicos. A massagem vigorosa do seio carotídeo com os dedos  é chamada de manobra vagal. Algumas arritmias com frequências cardíacas elevadas podem ser controladas apenas com estímulo repetido no seio carotídeo, através de intensa massagem na região lateral do pescoço.

Hipotensão postural

Hipotensão postural é queda da pressão arterial quando mudamos da posição deitada/sentada para a em pé. Todo mundo já sentiu isso alguma vez na vida ao se levantar de forma rápida e ficar tonto, com a vista escura. Na maioria dos casos o que ocorre é uma pré-síncope, mas em algumas pessoas a hipotensão pode ser tão grande que chega a causar síncope.

Essa queda abrupta da pressão arterial ocorre geralmente em pessoas desidratadas, que tomam diuréticos (leia: PARA QUE SERVEM OS DIURÉTICOS ? ), em pacientes diabéticos, idosos, pessoas medicadas com remédios para a pressão alta ou que consumam álcool de forma excessiva.

Arritmias cardíacas

As arritmias cardíacas são causas comuns de desmaios. Um coração arrítmico bombeia o sangue ineficientemente, levando à uma má oxigenação cerebral e, consequentemente, à síncope.

Quando a arritmia que dá origem à síncope ainda se encontra presente no momento do atendimento médico, o diagnóstico é fácil de ser estabelecido. O problema é que boa parte dessas arritmias são intermitentes, duram alguns segundos e desaparecem. Quando o doente chega ao médico já não há sinais de alteração na condução elétrica do coração.

Na síncope causada por arritmias, o paciente habitualmente perde a consciência sem apresentar sintomas prévios. No máximo, um quadro de palpitações precede o desmaio.

Tanto as bradicardias (coração que bate muito lentamente) quanto as taquicardias (coração que bate muito rapidamente) podem provocar síncopes.

As síncopes de origem cardíaca são potencialmente perigosas, pois elas podem ser causadas por arritmias malignas, com risco de evolução para parada cardíaca.

Leia também: PALPITAÇÕES, TAQUICARDIA E ARRITMIAS CARDÍACAS

Outras doenças cardíacas

Doenças das válvulas cardíacas, principalmente da válvula aórtica podem levar à síncope. Outras doenças, como cardiomiopatia hipertrófica e embolia pulmonar também podem causar desmaios.


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.