Illness name: coronavirus

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Índice
1. Nota importante
2. O que é o Coronavírus?
3. Tipos
4. Transmissão
4.1. Surtos nos anos 2000
4.2. Novo coronavírus de 2019 (SARS-CoV-2)
5. Sintomas
5.1. Coronavírus em geral
5.2. MERS-CoV e SARS-CoV
5.3. Covid-19 (novo coronavírus)
6. Mortalidade
7. Covid-19 nas crianças
8. O Coronavírus é mais grave que a gripe (vírus influenza)?
9. Diagnóstico
10. Tratamento
10.1. Cloroquina ou hidroxicloroquina
10.2. Hidroxicloroquina com azitromicina
10.3. Lopinavir-ritonavir
10.4. Remdesivir
10.5. Dexametasona
10.6. Tratamento precoce
11. Prevenção
12. Dúvidas comuns
13. Referências

Nota importante

A pandemia pelo novo Coronavírus é a mais grave situação de saúde pública dos últimos 100 anos. O vírus é altamente contagioso e se espalha com facilidade.

Muitos sistemas de saúde do mundo, públicos ou privados, não têm recursos técnicos nem humanos para dar conta de um aumento grande e súbito do número de pacientes precisando de internação hospitalar.

Um sistema de saúde em rotura é incapaz de atender não só os casos de covid-19, mas também qualquer outro tipo de doença. Pessoas com doenças tratáveis, inclusive jovens, podem morrer por falta de atendimento médico.

Na Itália, centros cirúrgicos foram transformados em CTI para poder atender a imensa demanda de pacientes críticos. Pessoas precisando de cirurgia não estão tendo onde operar em alguns hospitais. Em Nova Iorque, cidade mais rica do mundo, o sistema hospitalar rapidamente entrou em colapso e na época chegou a ter sozinha mais casos de covid-19 que qualquer outro país do mundo. No Brasil, vários estados entraram em colapso e o país chegou a ter mais de 4000 mortes por dia e falta de oxigênio em vários hospitais.

Até que todos possam ser vacinados, a única forma de parar o vírus que se mostrou eficaz até o momento é o tripé: lockdown (todo mundo em casa, tudo fechado e apenas serviços imprescindíveis funcionando), uso amplo de máscaras e a testagem massiva da população.

Vários países conseguiram controlar a epidemia com medidas de isolamento. Exemplos incluem países pobres e ricos e vão de Vietnam a Nova Zelândia, passando por Portugal, Austrália, China e Singapura.

Se o vírus SARS-CoV-2 não for travado, ele pode infectar de 60 a 70% da população. A taxa de mortalidade é de 2 a 3% dos casos notificados, mas pode chegar a mais de 10% em países com sistema de saúde em colapso.

Em um país de 200 milhões de habitantes como o Brasil, o colapso do sistema de saúde em vários estados ao mesmo tempo tem significado a morte de centenas de milhares de pessoas, estejam elas com Covid-19 ou com qualquer outra doença mais grave que não será tratada adequadamente por falta de vagas, materiais e profissionais.

Fique em casa o máximo possível. Distanciamento social é a única medida que funciona no momento.

Se você não consegue ficar em casa, utilize máscaras sempre que for a locais fechados ou em que não seja possível manter uma distância de pelo menos 2 metros para outras pessoas.

O que é o Coronavírus?

Os coronavírus (CoV) são uma grande família de vírus conhecidos desde os anos 1960, que podem infectar humanos e outros animais.

Os coronavírus humanos são comuns em todo o mundo. Eles geralmente causam doenças respiratórias de intensidade leve a moderada. Estima-se que até 10% dos casos de resfriados comuns sejam provocados por esse tipo de vírus. Portanto, é bem possível que você já tenha tido pelo menos uma virose por algum coronavírus e nem saiba.

Alguns sorotipos, porém, são mais virulentos e podem provocar infecção pulmonar grave, com risco de morte. Nos últimos 10 anos, surtos de estirpes mais agressivas no Oriente médio e no sudeste asiático provocaram centenas de mortes, a maioria delas por pneumonia grave.

O surto mais recente surgiu no final de 2019 na cidade de Wuhan, China. Essa nova cepa já infectou milhares de pessoas e chegou a mais de 100 países.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a doença chama-se Covid-19 e o vírus responsável por ela chama-se SARS-CoV-2 .

Inicialmente chamado de 2019-nCoV, o nome do vírus foi alterado para SARS-CoV-2 com base em sua relação genética com o SARS-CoV original que causou o surto da doença em 2002-2003.

Tipos

Alguns coronavírus foram identificados já há muitos anos enquanto outros foram reconhecidos apenas recentemente, como são os casos do coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) em 2012 e o coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV) em 2003, que surgiu no sudeste asiático.

Os coronavírus infectam mamíferos e aves. Existem diversas cepas diferentes, sendo os morcegos os animais que abrigam o maior número de variantes do vírus.

Nos humanos há pelo menos 7 sorotipos de coronavírus que provocam doença:

  • HCoV-229E.
  • HCoV-NL63.
  • HCoV-OC43.
  • HCoV-HKU1.
  • MERS-CoV.
  • SARS-CoV.
  • SARS-CoV-2 (anteriormente 2019-nCoV).

Transmissão

Os coronavírus humanos geralmente se espalham de uma pessoa infectada para outras através de:

  • Transmissão pelo ar, quando um paciente infectado tosse, espirra ou fala (principal via).
  • Contato pessoal próximo, como tocar ou apertar as mãos de alguém infectado.
  • Tocar em um objeto ou superfície que tenha sido contaminado com o vírus e em seguida levar a mão à boca, nariz ou olhos.
  • Raramente, contaminação por contato com fezes do paciente.

Habitualmente, as infecções pelo coronavírus humanos ocorrem nos meses de outono e inverno.

A maioria das pessoas é infectada com um ou mais dos coronavírus humanos comuns durante a vida, principalmente durante a infância.

Creches e asilos para idosos são estabelecimentos que frequentemente abrigam surtos de resfriado por coronavírus.

Surtos nos anos 2000

Alguns tipos de coronavírus são zoonoses, ou seja, podem ser transmitidos de animais para seres humanos.

O surto de MERS-CoV começou no Oriente Médio após o vírus “saltar” de camelos para humanos. Já o SARS-CoV na China provavelmente surgiu após a transmissão de morcegos para humanos.

Quando o coronavírus “pula” de uma espécie de animal para nós humanos, os surtos costumam ser mais graves, pois são vírus completamente novos para o nosso sistema imunológico. A imensa maioria das pessoas não tem grau nenhum de imunidade e aquelas mais debilitadas acabam desenvolvendo infecção severa.

Novo coronavírus de 2019 (SARS-CoV-2)

Ainda não sabemos exatamente como surgiu esse novo sorotipo de Wuhan, mas as investigações epidemiológicas apontam um mercado de frutos do mar, onde a maioria dos pacientes havia trabalhado ou visitado, como a origem desse novo surto. Esse mercado também vendia carnes processadas e animais para consumo vivos, incluindo aves, burros, ovelhas, porcos, camelos, raposas, texugos, ouriços e répteis.

Nos primeiros casos identificados desse novo surto, a maioria dos pacientes referia algum vínculo com o mercado de frutos do mar e outros animais, sugerindo que disseminação inicial tenha partido de animais para pessoas.

Conforme a quantidade de pessoas contaminadas pelo vírus foi crescendo, verificou-se um número cada vez maior de pessoas que negavam qualquer contato com o mercado ou com outros animais, sugerindo que a virose estava agora se perpetuando através da transmissão direta de uma pessoa para outra.

Na segunda quinzena de janeiro de 2020, o governo chinês anunciou que foi confirmada a transmissão de uma pessoa para outra desse novo sorotipo. As estimativas atuais sugerem que cada pessoa infectada tem transmitido o vírus para mais 2 ou 3.

Não sabemos ainda quanto tempo o SARS-CoV-2 sobrevive no ambiente, mas estudos iniciais mostravam que ele permanece viável para transmissão por até 4 a 5 dias em materiais como madeira, alumínio, plástico, papel e vidro. Em locais quentes e com direta exposição solar a resistência do vírus é bem menor.

O risco real de transmissão através de por objetos, porém, parece ser pequeno, bem menor que a transmissão por via aérea.

Sintomas

Coronavírus em geral

Na maioria dos casos, as infecções pelo coronavírus provoca quadros respiratórios leves. O período de incubação varia de 2 a 14 dias.

Os coronavírus humanos comuns, incluindo os tipos 229E, NL63, OC43 e HKU1, geralmente causam doenças leves a moderadas do trato respiratório superior, como o resfriado comum (leia: Você sabe qual é a diferença entre gripe e resfriado? ).

Os resfriados pelo coronavírus têm curta duração e curam-se espontaneamente. Os sintomas mais comuns incluem:

  • Coriza.
  • Dor de cabeça.
  • Tosse.
  • Dor de garganta.
  • Febre.
  • Mal-estar.
  • Otite média (mais comum em crianças).

Eventualmente, os coronavírus humanos podem causar doenças do trato respiratório inferior, como pneumonia ou bronquite . Nos sorotipos listados acima, essas complicações são incomuns e só costumam acontecer em pessoas mais debilitadas, com doença cardiopulmonar, com sistema imunológico enfraquecido, em bebês ou idosos.

MERS-CoV e SARS-CoV

Sabe-se que outros dois coronavírus humanos, MERS-CoV e SARS-CoV, frequentemente provocam sintomas graves.

Os sintomas da MERS-CoV geralmente incluem febre, tosse e falta de ar. A doença frequentemente progride para pneumonia. Cerca de 30 a 40% dos pacientes diagnosticados com a síndrome respiratória do Oriente Médio acabam falecendo.

Os sintomas da infecção pelo SARS-CoV geralmente incluem febre, calafrios, tosse e dores no corpo. O quadro também costuma evoluir pneumonia. A mortalidade da síndrome respiratória aguda grave pelo coronavírus costuma ser de 9 a 12%.

Covid-19 (novo coronavírus)

O espectro clínico do SARS-CoV-2 varia desde um quadro leve, semelhante aos resfriados provocados por outros tipos de Coronavírus, até pneumonia grave com insuficiência respiratória e choque séptico . Já existem relatos também de pacientes infectados com SARS-CoV-2 sem sintoma algum de doença.

O período de incubação médio é de 4 a 5 dias. Após cerca de 8 dias de doença, a maioria dos pacientes deixa de ser contagioso.

Entre os pacientes que desenvolvem sintomas, febre, tosse e falta de ar são os mais comuns. A febre, porém, pode não estar presente em alguns pacientes, como bebês, idosos, imunossuprimidos ou pessoas que tomam regularmente medicamentos que podem mascarar a febre, como anti-inflamatórios ou analgésicos comuns.

Embora não reconhecido inicialmente, distúrbios do olfato e do paladar, como anosmia (perda do olfato) e disgeusia (diminuição do paladar), têm sido frequentemente relatados como sintomas comuns da Covid-19, podendo ocorrer em até 1/3 dos pacientes.

Em um estudo com 138 pacientes hospitalizados com pneumonia por Covid-19 em Wuhan, as características clínicas mais comuns no início da doença foram:

  • Febre em 99%.
  • Fadiga em 70%.
  • Tosse seca em 59%.
  • Anorexia (perda de apetite) em 40%.
  • Mialgias (dor muscular) em 35%.
  • Dispneia (falta de ar) em 31%.
  • Tosse com escarro em 27%.

Em outro estudo na China, considerado o maior sobre o SARS-CoV-2 até o momento, pesquisadores do Centro Chinês de Controle e Proteção de Doenças analisaram 44.672 casos confirmados na China entre 31 de dezembro de 2019 e 11 de fevereiro de 2020. Desses casos, 80,9% (ou 36.160 casos) foram considerados leves, 13,8% (6.168 casos) graves e 4,7% (2.087) críticos. Casos críticos foram aqueles que exibiram insuficiência respiratória, choque séptico ou falência de múltiplos órgãos.

Explicamos os sintomas e o quadro clínico em geral da COVID-19 com mais detalhes no artigo: SINTOMAS DA COVID-19 – Quadro clínico e laboratorial .

Mortalidade

A atual taxa de mortalidade está ao redor de 2 a 4%, bem mais baixa que as taxas dos surtos recentes dos Coronavírus MERS e SARS. O problema é o elevado número de pessoas contaminadas, o que torna alto o número absoluto de mortos (cada 100 mil pessoas sabidamente infectadas resultam em pelo menos 2 a 4 mil mortes).

Os pacientes graves também demoram muito a se recuperar e acabam ocupando vagas de CTI por várias semanas. Se não houver isolamento social adequado, o número de novos infectados precisando de CTI acaba por ultrapassar facilmente o número de infectados que recebem alta e liberam a cama para novos pacientes.

O tempo médio de recuperação é de 2 semanas para os casos leves e de 3 a 6 semanas para os casos mais graves.

É por conta do possível colapso dos sistemas de saúde que a taxa de mortalidade da covid-19 pode ultrapassar os 10% em determinadas regiões.

Em situações normais, a atual taxa de mortalidade média do novo coronavírus de acordo com a faixa etária é:

  • 14,8% nos pacientes com 80 anos ou mais.
  • 8% entre as idades de 70 a 79 anos.
  • 3,6% para pessoas de 60 a 69 anos.
  • 1,3% para 50 a 59 anos.
  • 0,4% para a faixa etária de 40 a 49 anos.
  • 0,2% para pessoas de 10 a 39 anos.
  • Praticamente 0% para pessoas até 9 anos.

Covid-19 nas crianças

Embora tenham sido relatados alguns casos graves de Covid-19 em crianças, incluindo casos fatais, a imensa maioria das crianças costuma ter doença assintomática ou leve e se recupera dentro de uma a duas semanas após o início dos sintomas.

Lactentes com menos de 1 ano de idade e crianças já previamente doentes, como aquelas com imunossupressão, doenças cardiovasculares ou doenças pulmonares, parecem estar em maior risco de desenvolverem doença grave.

Em um estudo chinês com 728 crianças com Covid-19, aproximadamente 55% dos casos foram leves ou assintomáticos e 40% foram moderados, com evidência clínica ou radiográfica de pneumonia, porém sem hipoxemia (baixa oxigenação no sangue). Menos de 1% dos casos foram críticos.

Recentemente surgiram relatos de crianças contaminadas com Covid-10 que desenvolveram características clínicas semelhantes às da síndrome do choque tóxico e da doença de Kawasaki, como sintomas gastrointestinais e miocardite (inflamação do músculo do coração).

Explicamos a Doença de Kawasaki com detalhes no artigo: Doença de Kawasaki – Causas, sintomas e tratamento .

O Coronavírus é mais grave que a gripe (vírus influenza)?

Se a pergunta for em relação ao Covid-19, a resposta é um sonoro sim. Mas vamos começar falando de todos os tipos de Coronavírus e de Influenza.

Neste caso, a resposta depende de qual Coronavírus e qual Influenza estamos comparando. Também depende se estamos falando em taxa de mortalidade ou número absoluto de mortes.

O atual vírus Influenza que tem circulado no mundo entre 2019 e 2020 apresenta taxa de mortalidade de apenas 0,05%, bem mais baixa que os 2 a 3% do SARS-CoV-2.

Em 2019, nos EUA, a gripe infectou cerca de 30 milhões de pessoas e levou 46 mil ao óbito. Em menos de 2 meses, e com intensa quarentena da população, a Covid já infectou mais de 1 milhão de pessoas e levou mais de 56 mil ao óbito.

Na época do surto de gripe A (H1N1) em 2009, a taxa de mortalidade chegou perto dos 2%, cerca da metade do atual surto de SARS-CoV-2. Já a gripe espanhola de 1918 teve uma taxa de letalidade de 8% e infectou mais de 500 milhões de pessoas.

Se formos ver a taxa de mortalidade dos coronavírus comuns que provocam resfriado, ela é tão baixa que é até difícil encontrar dados confiáveis sobre o assunto. Portanto, surtos devem ser comparados com surtos e infecções comuns com infecções comuns.

Outro dado importante é a mortalidade em crianças. O SARS-CoV-2 tem sido bem agressivo com pacientes idosos, mas bastante benigno nas crianças, com nenhuma morte registrada até o momento na maioria dos países. O vírus da gripe não tem esse comportamento tão “dócil” com as crianças, principalmente os bebês.

Para finalizar, devemos levar em conta também a existência de vacina e de medicamentos eficazes contra a gripe. O Coronavírus até o momento não dispõe de nenhum dos dois.

Resumindo, como estamos em plena pandemia de SARS-CoV-2 e a sua mortalidade é relativamente alta em idosos e pessoas debilitadas, o Covid-19 do ponto de vista de saúde pública é atualmente uma doença bem mais perigosa que a gripe comum. Talvez, mais perigosa que qualquer outra doença atualmente, devido a sua elevada taxa de transmissão e rápida propagação.

Diagnóstico

O coronavírus pode ser identificado laboratorialmente através da coleta de amostras de secreção da nasofaringe. O método mais utilizado atualmente é o RT-PCR (reação em cadeia da polimerase com transcriptase reversa).

Tratamento

Não há tratamento disponível para infecções por coronavírus. O tratamento utilizado é apenas sintomático, com controle da febre e das dores. Na imensa maioria dos casos, a doença cura-se sozinha após alguns dias.

Pacientes com quadros mais graves e suspeita de pneumonia precisam ser internados para receber cuidados de suporte. Alguns pacientes evoluem com insuficiência respiratória e precisam de intubação orotraqueal e ventilação mecânica.

Cloroquina ou hidroxicloroquina

A cloroquina ou a hidroxicloroquina são fármacos usados há décadas no tratamento da malária e dos sintomas articulares do lúpus e da artrite reumatoide . Ambos foram utilizados como tratamento experimental nos primeiros meses da pandemia em 2020.

Rapidamente, porém, as maioria dos países abandou esses dois fármacos por falta de eficácia nos estudos.

Os poucos estudos disponíveis que mostraram benefícios foram realizados no início da pandemia, apresentavam importantes problemas metodológicos e foram realizados com um número muito pequeno de pacientes.

Já os estudos mais recentes, com metodologia mais cuidadosa e maior número de pacientes, têm sugerido que a cloroquina e a hidroxicloroquina não são eficazes. Portanto, já não se trata mais de um tratamento sem evidências de eficácia, mas sim de um tratamento com evidências de falta de eficácia.

Atualmente, todas as entidades médicas relevantes do mundo não indicam a prescrição de hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19.

Hidroxicloroquina com azitromicina

Um pequeno estudo observacional francês publicado em Março de 2020 com apenas 6 pacientes levantou a hipótese de que a azitromicina pudesse potencializar o efeito antiviral da hidroxicloroquina.

Estudos realizados posteriormente com maior número de pacientes, porém, mostraram que a associação não só parece não ser eficaz, como ainda aumenta de forma inaceitável o risco de arritmias cardíacas.

Atualmente, tanto o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) como o Centre for Disease Prevention and Control (CDC) dos EUA sugerem não utilizar essa associação para o tratamento da COVID-19.

Lopinavir-ritonavir

A combinação desses dois antivirais, utilizados há anos no tratamento dos pacientes com HIV , chegou a ser utilizado por vários países como tratamento experimental, mas estudos publicados recentemente mostraram que esses fármacos apresentam pouca ou nenhuma eficácia contra o SARS-CoV-2.

Remdesivir

Em Maio de 2020 foi publicado o primeiro ensaio clinico controlado no New England Journal of Medicine que mostrou redução da mortalidade em 30% e redução do tempo de doença em 27%. Os melhores resultados ocorreram em jovens e naqueles que tomaram o medicamento no início da doença.

Porém, outros estudos mais recentes têm tido dificuldade de replicar esses resultados. Atualmente, esse medicamento tem sido utilizado apenas nos pacientes mais graves.

Dexametasona

No dia 16 de Junho de 2020, pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, anunciaram que o braço do estudo RECOVERY (Randomised Evaluation of COVid-19 thERapY) que testou a dexametasona mostrou redução da mortalidade nos casos mais graves.

A dexametasona reduziu as mortes em um terço nos pacientes ventilados e em um quinto nos pacientes recebendo apenas oxigênio. Não houve benefício entre os pacientes que não necessitaram de suporte respiratório.

Até Dezembro de 2020, a dexametasona é o único fármaco que apresenta aceitável grau de evidência para o tratamento da Covid-19. Ela porém, só deve ser utilizada em pacientes com hipoxemia, complicação que geralmente ocorre na segunda semana da doença, quando já não há mais replicação viral relevante e as complicações são provocadas pela reação inflamatória do organismo do próprio paciente.

Não se deve usar corticoides na fase inicial da Covid-19, pois há risco de agravamento do quadro.

Tratamento precoce

Não existe tratamento precoce eficaz para Covid-19. Fármacos como ivermectina, hidroxicloroquina, azitromicina, nitazoxanida, zinco, vitamina D, ozônio, dióxido de cloro, etc. não se mostraram eficazes em nenhum estudo clínico controlado de alta qualidade.

Nenhum país e nenhuma entidade médica do mundo, incluindo a Organização Mundial de Saúde, Centers for Disease Control and Prevention (CDC), The United States Food and Drug Administration (FDA), National Institutes of Health (NIH), Agencia Europeia de Medicamentos e todas as Sociedades de Infectologia e Pneumologia, indicam qualquer tipo de tratamento precoce. Isso é consenso científico mundial.

Prevenção

Já existem vários tipos de vacinas efetivas contra a Covid-19. As vacinas atualmente aprovadas pela Organização Mundial de Saúde são:

  • Pfizer/BioNtech.
  • AstraZeneca/Oxford
  • Johnson & Johnson
  • Moderna
  • Sinopharm (Coronavac).

A prevenção, até que haja vacinas disponíveis pelo menos 70% das pessoas, resume-se aos cuidados pessoais para reduzir o risco de contágio, incluindo:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabão por pelo menos 20 segundos (leia: Por que lavar as mãos é importante para evitar infecções? ).
  • Se não houver água e sabão disponíveis, uma alternativa é usar soluções alcoólicas para higienização das mãos, como álcool gel (sim, funciona, não acredite em boatos da Internet).
  • Evitar tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas com sintomas respiratórios. Pelo menos 2 metros de distância é recomendado.
  • Evitar viajar para áreas onde estejam ocorrendo transmissão sem controle do vírus.
  • Em cidades onde o vírus esteja comprovadamente circulando, evite aglomerações de pessoas, principalmente em locais fechados. Fique em casa o máximo possível.
  • Locais públicos onde as pessoas tocam com as mãos devem ser frequentemente limpos com álcool 70% ou água sanitária (lixívia).
  • Use máscaras sempre que for sair de casa.

Dúvidas comuns

As máscaras são eficazes na prevenção do coronavírus?

Sim. O vírus pode ser transmitido por gotículas das vias respiratórias e as máscaras ajudam nessa situação.

É importante salientar que as máscaras cirúrgicas comuns dificultam a transmissão por parte de quem as usa. Ela não impede que você se contamine, ela impede que você contamine os outros.

Mãos infectadas costumam ser a principal via de contágio nesse tipo de virose. Se você contaminar suas mãos e depois for comer ou coçar os olhos, boca ou nariz, o vírus pode ser adquirido. Não importa se você usa máscaras ou não.

Existem máscaras faciais específicas para uso médico, que efetivamente previnem a contaminação, como as N95 ou FFP2.

Meu animal de estimação pode transmitir o coronavírus?

Há raros casos relatados de contaminação de animais domésticos, como cães e gatos. Porém, os animais permanecem assintomáticos e não há evidências de que eles possam transmitir o vírus para seres humanos.

Estudos realizados com inoculação voluntária do vírus nos focinhos de gatos e cães mostrou que os primeiros podem adquirir a doença, principalmente se forem filhotes.

O experimento porém foi realizado com grande carga de vírus e a contaminação foi feita de forma muito pouco natural. É pouco provável que em condições naturais, os animais domésticos sejam um problema.

Posso morrer se pegar o coronavírus Covid-19?

Pode. A taxa de mortalidade encontra-se ao redor de 3 a 4%, ou seja, cerca de 3 a 4 em cada 100 pessoas infectadas acaba falecendo. Idosos e pacientes com doenças cardíacas, pulmonares ou do sistema imunológico são aquelas com maior risco de óbito. Porém, há também casos de morte em adultos saudáveis.

A epidemia na China começou por causa da sopa de morcego?

Não. O RNA do vírus é semelhante ao de dois coronavírus que circulam em morcegos, mas a forma como os primeiros humanos foram infectados ainda não foi esclarecida.

O novo coronavírus é uma arma biológica desenvolvida pela China?

Não. As análises genéticas do vírus mostram que ele é uma mutação de um subtipo do vírus que está amplamente distribuído na natureza. Esse atual coronavírus é estruturalmente semelhante ao que circula entre cobras na China.

Essa também não é a primeira vez que vírus “saltam” de uma espécie para outra. A última pandemia de gripe foi causada por um vírus Influenza que circulava inicialmente em porcos, daí ter sido chamada à época de gripe suína.

Já há estudos sugerindo fortemente que o Covid-19 é resultado de seleção natural e não de manipulação genética artificial.

Existe vacina contra o coronavírus?

Sim. As primeiras vacinas comprovadamente eficazes começaram a ser aplicadas em Dezembro de 2020 em diversos países.

Comer alho pode ajudar a prevenir a infecção pelo novo Coronavírus?

Não há nenhuma evidência de que o alho ou qualquer outro tipo de alimento tenha efeito protetor.

Secadores de cabelo ou de mãos em banheiros públicos matam o Coronavírus?

Não, o calor dos secadores é insuficiente para matar qualquer tipo de vírus.

Tratamentos homeopáticos funcionam contra o Coronavírus?

Não, não existe nenhum estudo que comprove a eficácia da homeopatia ou qualquer outro tipo de medicina alternativa contra o Coronavírus.

Óleo de gergelim é eficaz contra o Coronavírus?

Não, como já referido, não existe nenhuma evidência sobre a eficácia de qualquer tipo de alimento ou tratamento alternativo.

Antibióticos são eficazes contra o SARS-CoV-2?

Não, antibióticos são fármacos utilizados no tratamento de doenças provocadas por bactérias. O Coronavírus é um vírus. Antibióticos não são eficazes contra vírus.

O Coronavírus é menos perigoso em países quentes?

Não. Países quentes como Índia e Brasil estão entre os países com maior mortalidade de vírus.

Qual é a diferença entre distanciamento social, isolamento e quarentena?

Isolamento é utilizado em pessoas sabidamente infectadas para que não contagiem outros cidadãos. O isolamento pode ser feito nos hospitais ou em casa, se houver condições e o estado clínico do paciente permitir.

A quarentena é utilizada em indivíduos que imaginamos estarem saudáveis, mas que possam ter estado em contacto com um paciente sabidamente infectado. Estes devem ficar 14 dias reclusos em casa.

Distanciamento social é feito nas pessoas saudáveis que não tiveram contato com infectados, de forma a impedir que as mesmas possam ser contaminadas. O distanciamento é feito em casa por tempo indeterminado até que a cadeia de transmissão do vírus seja interrompida.


Referências

  • Novel Coronavirus (COVID-2019) situation reports – World Health Organization.
  • Coronavirus COVID-19 Global Cases by the Center for Systems Science and Engineering (CSSE) – Johns Hopkins University (JHU).
  • Coronavirus – National Center for Immunization and Respiratory Diseases (NCIRD), Division of Viral Diseases.
  • Q&A on coronaviruses – World Health Organization.
  • 2019 Novel Coronavirus, Wuhan, China – Center for Immunization and Respiratory Diseases (NCIRD), Division of Viral Diseases.
  • Coronaviruses – UpToDate.
  • Coronavirus disease 2019 (COVID-19): Considerations in children – UpToDate.
  • A novel coronavirus associated with severe acute respiratory syndrome – New England Journal of Medicine.
  • Persistence of coronaviruses on inanimate surfaces and its inactivation with biocidal agents – Journal of Hospital Infection.
  • Vital Surveillances: The Epidemiological Characteristics of an Outbreak of 2019 Novel Coronavirus Diseases (COVID-19) — China, 2020 – Chinese Center for Disease Control and Prevention(China CDC).
  • The proximal origin of SARS-CoV-2 – Nature Medicine.
  • Covid-19 Coronavirus Pandemic – Worldometer.
  • Hydroxychloroquine or chloroquine with or without a macrolide for treatment of COVID-19: a multinational registry analysis – Lancet.
  • Remdesivir for the Treatment of Covid-19 — Preliminary Report – New England Journal of Medicine.
  • Low-cost dexamethasone reduces death by up to one third in hospitalised patients with severe respiratory complications of COVID-19 – recoverytrial.net.

Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.