Illness name: diabetes insipidus
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Introdução
O diabetes insipidus é um distúrbio no qual há uma produção de grandes volumes de urina, devido a uma diminuição da reabsorção da água nos túbulos renais.
A micção frequente e em grande quantidade chama-se poliúria e ocorre quando há diminuição da ação do hormônio antidiurético (ADH), que é o hormônio que controla a quantidade de água que os rins eliminam. Sem o estímulo do ADH, os rins não reabsorvem a água filtrada e o paciente acaba por urinar com grande frequência.
Dependendo do grau de deficiência do ADH, a produção de urina pode variar de 3 litros a mais de 10 litros por dia.
Neste artigo, vamos explicar o que é o diabetes insipidus. Se você está à procura de informação sobre diabetes mellitus, um outro tipo de diabetes, que nada tem a ver com este, acesse o seguinte link: O QUE É DIABETES MELLITUS?
O que é o hormônio antidiurético (ADH)?
Para entender o que é o diabetes insipidus, é necessário antes perceber como o rim controla a quantidade de água que é excretada na urina.
O hipotálamo e a hipófise, duas glândulas do nosso sistema nervoso central, participam da produção de um hormônio chamado vasopressina ou hormônio anti-diurético (ADH, sigla em inglês). Este hormônio é liberado na corrente sanguínea e age principalmente nos túbulos renais, impedindo que os rins percam água através da urina.
O mecanismo funciona da seguinte maneira: imaginemos um indivíduo em um dia quente de verão trabalhando ao sol. Essa pessoa sua muito e como tem pouco acesso a água, começa a se desidratar. O nosso organismo é muito sensível a qualquer sinal de desidratação, e pequenas perdas de água ativam logo a liberação do ADH para o sangue.
O ADH age de duas maneiras. Uma estimulando a sede e fazendo com que a pessoa comece a procurar por água antes que a desidratação fique mais grave. A segunda é nos rins, diminuindo a quantidade de água que sairá pela urina, retardando o processo de desidratação. Quando há muito ADH circulante, a urina fica bem concentrada, com coloração e odor forte devido a pouca quantidade de água para diluir as substâncias presentes (leia: URINA COM CHEIRO FORTE ). Por isso, a cor da urina é sempre um bom indicador do estado de hidratação de um indivíduo.
Agora imaginemos uma pessoa bem hidratada que se encontra em uma festa, em um ambiente com ar-condicionado e várias bebidas e comidas disponíveis. Essa pessoa começa a ingerir líquidos, e o seu organismo nota que há mais água no corpo do que o necessário. Neste momento, a hipófise suspende a liberação de ADH, e o rim, sem a presença deste hormônio, começa a excretar o excesso de água pela urina. A urina agora é bem clara, quase transparente.
Através do ADH, o organismo tem um controle muito fino da quantidade de água corporal. Pequenas alterações para mais ou para menos são suficientes para estimular ou inibir a liberação de ADH, concentrando ou diluindo a urina.
Se quiser ler sobre todas as causas de urina em excesso, acesse: URINA EM EXCESSO. O QUE PODE SIGNIFICAR?
O que é o diabetes insipidus?
A palavra diabetes vem do grego antigo e significa sifão, um sistema mecânico que permite a passagem de água de um lado para outro.
O primeiro relato de diabetes data do ano 70 D.C e descrevia doentes que apresentavam grandes volumes de urina associados a muita sede. Porém, foi somente no século XVII que se descobriu que existiam 2 tipos diferentes de diabetes. Um associado ao excesso de glicose no sangue e outro não. Estabeleceu-se, então, duas doenças distintas: o diabetes mellitus e o diabetes insipidus.
O diabetes insipidus ocorre basicamente por dois motivos:
1- uma alteração no eixo hipotálamo/hipófise que impede a produção e a liberação do ADH, mesmo em estados de desidratação;
2- um problema nos rins, que deixam de responder à presença do ADH.
Em ambos os casos, o resultado final é uma perda excessiva de água pela urina, chamada de poliúria.
Quando existe ADH, mas o rim não responde ao mesmo, damos o nome de diabetes insipidus nefrogênico. Quando há falta de produção do ADH pelo sistema nervoso central, chamamos de diabetes insipidus central.
Os doentes com diabetes insípidos apresentam grande diurese, desidratam-se facilmente e apresentam muita sede. Enquanto o doente tiver acesso fácil a líquidos, não ocorrem grandes complicações, além do inconveniente de precisar urinar a toda hora.
Se o paciente urina em excesso e não bebe água suficiente para repor as perdas, inicia-se um processo de desidratação, que, em casos mais graves de DI, pode ser severa e potencialmente fatal.
Causas
1. Diabetes insipidus central
O DI central ocorre habitualmente por agressões ao eixo hipotálamo-hipófise.
As principais causas de DI central são:
- Cirurgia do sistema nervoso central com lesão acidental do hipotálamo ou hipófise.
- Traumas.
- Tumores do sistema nervoso central.
- Auto-imune com produção de auto anticorpos contra as células produtoras de ADH (leia: DOENÇA AUTOIMUNE ).
- Genética. Algumas famílias apresentam falhas na produção de ADH por mutações genéticas.
- Anorexia nervosa.
- Encefalopatia hipóxica. Lesão cerebral por hipoxemia (falta de oxigênio).
2. Diabetes insipidus nefrogênico
O DI nefrogênico ocorre por uma incapacidade do ADH em agir no rim, normalmente por defeitos nos receptores dos túbulos renais. O hipotálamo produz o ADH, porém este não consegue atuar sobre os rins.
As principais causas de DI nefrogênico são:
- Alterações genéticas nos receptores dos túbulos renais.
- Uso crônico de lítio.
- Hipercalcemia (cálcio sanguíneo elevado).
- Hipocalemia (potássio sanguíneo baixo).
- Amiloidose.
- Síndrome de Sjögren .
Existe uma terceira forma de diabetes insípidos que ocorre durante a gravidez. A placenta de algumas mulheres produz uma enzima que inativa o ADH circulante, levando a um DI transiente, que desaparece após o parto.
Sintomas
Tanto no DI nefrogênico quanto no DI central, os principais sinais e sintomas são a sede intensa e a produção excessiva de urina, com consequente vontade de urinar a todo momento, inclusive à noite, durante o sono.
Enquanto um adulto saudável urina entre 1,5 e 3 litros por dia, os pacientes com DI produzem facilmente 10 ou mais litros de urina por dia.
Se não houver acesso fácil à água, o paciente pode ficar desidratado, desenvolvendo sintomas como boca seca, fraqueza, hipotensão, dor de cabeça e taquicardia (batimentos cardíacos acelerados).
Tratamento
Como no diabetes insipidus central há falta de produção do ADH, o tratamento baseia-se na reposição de ADH sintético por via oral ou intra-nasal. O principal medicamento usado para este fim é a desmopressina.
No caso do diabetes insipidus nefrogênico, o problema não é a falta de ADH, mas sim a resistência à sua ação. Por este motivo, não adianta usar desmopressina.
O tratamento nestes casos é feito com a redução da osmolaridade urinária. Quanto menos solutos houver na urina, menos água os rins perdem. Por isso, no DI nefrogênico, o paciente deve fazer uma dieta pobre em sal e em proteínas.
Diuréticos da família do tiazídicos também ajudam, apesar deste tratamento parecer um contrassenso. O mecanismo pelo qual o diurético parece funcionar é porque a eliminação de sódio induzida pelos tiazídicos estimula a reabsorção de água em áreas do túbulo renal que não são comandadas pelo ADH.
Se o DI estiver sendo causado por algum medicamento, o tratamento consiste na suspensão deste fármaco, o que, em geral, é suficiente para resolver o problema.
Autor(es)
Dr. Pedro Pinheiro
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.