Illness name: sinovite transitoria quadril
Description:
O que é a sinovite transitória do quadril?
A sinovite transitória do quadril , também chamada sinovite tóxica ou síndrome do quadril irritável , é um quadro de inflamação dos tecidos ao redor da articulação do quadril que provoca dor e faz com que o paciente manque e tenha dificuldade de suportar o próprio peso.
Esta condição é chamada de “transitória” porque dura apenas um curto período e resolve-se sozinha. Embora a sinovite tóxica em si seja benigna, ela deve ser distinguida da artrite séptica, uma infecção da articulação que requer tratamento de emergência.
A sinovite transitória é a causa mais comum de dor aguda no quadril em crianças de 3 a 10 anos, ocorrendo em até 3% das crianças. Os meninos são mais afetados do que as meninas e há uma ligeira predileção pelo lado direito do quadril.
Apesar de ser mais comum em crianças, a doença também já foi descrita em bebês e adultos.
O que é uma sinovite?
Articulação sinovial ou diartrose é o nome dado ao tipo de articulação envolvida por uma capsula repleta de um fluido chamado líquido sinovial ou sinóvia .
O líquido sinovial é produzido pela membrana sinovial , um tecido conjuntivo especializado que recobre a superfície interna das cápsulas das articulações sinoviais.
A sinóvia é um fluido viscoso e transparente que serve para lubrificar as articulações e prevenir o desgaste da cartilagem quando ela está em movimento.
Exemplos de articulações sinoviais são os joelhos, cotovelos, quadris, ombros, punhos e tornozelos.
Damos o nome de sinovite quando há uma inflamação na membrana sinovial. A sinovite transitória do quadril é, portanto, um quadro de inflamação temporária da membrana sinovial de uma das articulações dos quadris.
A sinovite transitória pode afetar outras grandes articulações sinoviais, mas o quadril é local mais frequente.
Causas
A causa exata da sinovite transitória do quadril ainda é desconhecida. A literatura científica apresenta múltiplas teorias etiológicas, mas nenhuma dessas hipóteses postuladas foi conclusivamente substanciada.
Os fatores de risco mais descritos incluem:
- Infecção respiratória viral recente das vias respiratórias altas ( otite média , sinusite , faringite ou gripe ).
- Infecção recente por Parvovírus B-19 ou Betaherpesvirus humano 6A.
- Infecção bacteriana recente, principalmente faringite estreptocócica .
- Trauma local nas semanas anteriores.
- Vacinação recente.
- Reação a medicamentos.
Sintomas
O sintoma mais típico da sinovite transitória é dor unilateral de início súbito ou gradual de intensidade ligeira a moderada. Menos de 5% dos casos apresentam dor bilateral nos quadris.
Os pacientes geralmente relatam dor no quadril ou virilha, mas a dor também pode surgir no joelho, coxa medial ou nádega. As crianças afetadas podem caminhar mancando ou podem se recusar a caminhar de todo por não conseguirem tolerar o peso do corpo no lado afetado.
A amplitude do movimento do quadril afetado costuma estar levemente limitada pela dor e espasmo, e o quadril pode estar mantido em flexão com leve abdução e rotação externa da perna.
Ao exame físico do pediatra, movimentos suaves de arco curto do quadril podem ser tolerados, mas uma tentativa de se estender completamente ou girar internamente o quadril costuma provocar dor relevante.
Crianças muito pequenas, que pouco andam e não falam, podem não ter outros sintomas além de chorar à noite; entretanto, um exame cuidadoso costumam revelar algum grau de coxeio antálgico (o paciente manca devido à dor).
Crianças com sinovite transitória são geralmente afebris ou têm uma temperatura levemente elevada. Na imensa maioria dos casos, a criança queixa-se de dor, manca, mas apresenta um estado geral muito bom. Febre alta é rara e deve fazer o médico suspeitar de artrite séptica.
Alguns pacientes com sinovite transitória podem não relatar dor e apresentar apenas um coxear.
Em resumo, os sintomas da sinovite transitória do quadril são:
- Dor unilateral no quadril de início súbito ou gradual de intensidade leve a moderada.
- Dor pode ocorrer também no joelho, coxa ou nádega.
- Paciente manca e pode ter dificuldade de apoiar o pé no chão.
- Estado geral da criança permanece bom.
- Não há sinais claros de artrite, como calor, vermelhidão ou inchaço na articulação afetada.
Sinais de alarme
Os pais devem procurar o pediatra se a criança apresentar os seguintes sinais:
- Febre, sonolência, cansaço, perda do apetite ou queda do estado geral.
- Inchaço ou vermelhidão no quadril ou perna.
- Agravamento da dor, tornando-se intensa.
- Persistência da dor após 2 semanas.
Diagnóstico
O diagnóstico de sinovite transitória é de exclusão e se baseia no histórico e exame físico, em combinação com testes laboratoriais e de imagem do quadril.
Exames de imagens, como radiografia, ultrassonografia ou ressonância magnética do quadril podem ser solicitados se o pediatra desejar descartar outras doenças com sintomas semelhantes, como a síndrome de Legg-Calvé-Perthes, tumores ou artrite idiopática juvenil.
Os testes laboratoriais são usados para ajudar a distinguir crianças com sinovite transitória daquelas com artrite séptica. Na sinovite transitória, os valores laboratoriais costumam ser normais ou podem revelar apenas pequenas elevações na contagem de leucócitos , nível de proteína C reativa e taxa de sedimentação de eritrócitos (VHS) , consistentes com um processo inflamatório leve e inespecífico.
Vários estudos têm tentado definir critérios para ajudar a diferenciar a sinovite transitória da artrite séptica. Quatro preditores independentes de artrite séptica foram encontrados, chamados critérios de Kocher:
- Febre acima de 38.5° C.
- Incapacidade de suportar peso.
- VHS maior que 40 mm/h.
- Contagem de leucócitos no sangue superior a 12.000 células/µL.
Pacientes com três dos quatro preditores tinham 93% de chance de ter artrite séptica, e aqueles com todos os quatro tinham 99% de chance.
Um estudo subsequente para validar esses achados mostrou que pacientes com nenhum desses preditores tinham 2% de probabilidade de artrite séptica. Com um preditor, a chance era de 9,5%; com dois preditores, 35% de probabilidade; com três preditores, 73% de probabilidade; e com todos os quatro preditores, 93% de probabilidade do quadro ser artrite séptica.
Tratamento
Por definição, a sinovite transitória é uma doença autolimita e de cura espontânea. Sendo assim, a maioria dos casos de sinovite transitória do quadril pode ser gerenciada em casa com acompanhamento próximo pelo pediatra.
O tratamento da sinovite transitória é feito com repouso da articulação afetada e anti-inflamatórios . As temperaturas devem ser monitoradas e qualquer febre deve ser relatada ao médico. É permitido às crianças um retorno gradual à atividade à medida que a dor diminui. O retorno às atividades normais é permitida quando o quadril estiver completamente livre de dor, sem nenhuma evidência de coxear.
O prognóstico para crianças com sinovite transitória é excelente. A maioria dos pacientes refere melhora da dor após 24 a 72 horas. 75% têm resolução completa da dor dentro de 2 semanas e 88% dentro de 4 semanas. O restante pode ter dores menos intensas, mas persistentes por até 8 semanas.
A recidiva pode ocorrer em cerca de 5 a 20% dos pacientes, mas as sequelas a longo prazo são raras.
Um pequeno número (2 a 3%) de casos de sinovite transitória segue um curso clínico e radiográfico consistente com o da doença de Legg-Calvé-Perthes. Crianças com sintomas persistentes devem ser submetidas à ultra-sonografia para avaliar a presença de derrame na articulação, pois um derrame persistente além de 6 semanas pode estar associado ao desenvolvimento da doença de Legg-Calvé-Perthes.
Referências
- Transient synovitis of the hip: a comprehensive review – Journal of pediatric orthopedics.
- Synovitis in osteoarthritis: current understanding with therapeutic implications – Arthritis Research & Therapy.
- Transient Synovitis – Medscape.
- Transient Synovitis – StatPearls.
- Musculoskeletal Disorders – Rosen’s Emergency Medicine: Concepts and Clinical Practice, Chapter 175, 2201-2217.e2.
- Arthritis – Tachdjian’s Pediatric Orthopaedics, Chapter 22, 928-944.e5.
- Imagens: Depositphotos .
Autor(es)
Dr. Pedro Pinheiro
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.