Illness name: picada de abelha

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Índice
1. Introdução
2. Biologia das abelhas e vespas
3. Sintomas da picada
4. Alergia à picada
5. O que fazer quando se é picado por uma abelha?
6. Referências

Introdução

Ser picado por uma abelha, vespa ou marimbondo é um evento muito doloroso e assustador, mas na maioria dos casos não provoca complicações mais graves.

A picada da abelha é incômoda e dolorosa, mas não evolui além disso. A exceção ocorre nos pacientes que são alérgicos ao veneno das Hymenoptera, ordem que engloba as famílias das abelhas e vespas.

Biologia das abelhas e vespas

Antes de falarmos das picadas das abelhas, vale a pena uma rápida revisão da biologia das abelhas e vespas. Esta parte está bem resumida e simplificada, não se assuste.

A ordem Hymenoptera é um dos maiores grupos dentre os insetos, englobando as diversas famílias de abelhas, vespas e formigas. Só para se ter uma ideia, existem mais de 10 mil espécies de abelhas e mais de 25 mil espécies de vespas. Por exemplo, a mamangava é uma espécie de abelha grande, que possui corpo escurecido e parecido com um besouro. Já marimbondo é o nome dado às espécies maiores de vespas, geralmente com o corpo de cor mais escurecida.

Obviamente, não vamos perder tempo discutindo as diferenças biológicas e geográficas de cada uma das espécies da ordem Hymenoptera, pois isso é irrelevante para o objetivo deste artigo.

A maioria das espécies de abelhas e vespas são animais dóceis que não costumam ferroar o ser humano, a não ser que se sintam atacadas.  Ter uma abelha ao seu redor não representa perigo, a não ser que você tente acertá-la ou a esmague acidentalmente contra a sua pele. As abelhas não costumam atacar sem motivo. Em geral, abelhas e vespas longes de suas colmeias não apresentam comportamento agressivo e oferecem pouco perigo aos seres humanos. E mesmo próximo a suas colmeias, a maioria das abelhas não é agressiva.

Há, entretanto, exceções. Algumas poucas espécies, como as abelhas africanas,  são muito sensíveis e podem atacar o ser humano, caso elas sintam que a sua presença põe em risco a sua colmeia. Barulhos e movimentos bruscos podem irritá-las e causar ataques de várias abelhas ao mesmo tempo.

Na prática, a maioria das picadas de abelhas ou vespas ocorre de forma isolada por um único inseto, geralmente uma abelha trabalhadora que se encontra afastada de sua colônia. A picada ocorre quando o inseto insere na pele o seu ferrão como forma de defesa ao se sentir atacado.

As vespas e abelhas que picam são sempre as fêmeas, pois os machos não possuem ferrão. Existem dois padrões de utilização do ferrão: algumas espécies, como as abelhas comuns, sofrem auto-amputação, ou seja, quando atacam, perdem o ferrão e parte das estruturas abdominais, o que as leva à morte. Há espécies, porém, que não sofrem auto-amputação e podem ferroar uma mesma vítima mais de uma vez. A quantidade de veneno injetada costuma ser maior nas espécies que perdem o ferrão.

Sintomas da picada

Após a ferroada, o paciente sente uma intensa dor e uma pequena inflamação da região afetada. O local ferroado fica avermelhando e inchado. A lesão costuma ter entre 1,0 e 5,0 cm de diâmetro e desaparece após algumas horas. Na maioria dos casos, a dor e o inchaço desaparecem em no máximo um ou dois dias.

Em 10% dos casos o paciente desenvolve uma reação maior às picadas, com intensa dor e inchaços que podem chegar a 10 cm de diâmetro e demoram até 10 dias para desaparecer. Este tipo de reação não significa que o paciente tenha alergia ao veneno das abelhas.

As picadas isoladas não costumam causar maiores problemas na maioria dos casos. Porém, nos casos de múltiplas picadas por várias abelhas ao mesmo tempo, a quantidade de veneno injetada pode ser grande, levando a sintomas como diarreia, vômitos, dor de cabeça, febre, prostração e confusão mental.

Para haver risco de morte, são, habitualmente, necessárias centenas de ferroadas para que haja inoculação de quantidades letais de veneno. Nestes casos, complicações pela ação do veneno podem surgir, como hemólise (destruição das células do sangue), arritmias cardíacas, insuficiência renal e rabdomiólise (destruição das células dos músculos).

Alergia à picada

O grande perigo das picadas de abelhas e vespas é a reação alérgica, chamada anafilaxia ou choque anafilático . A anafilaxia pode ocorrer após uma única picada de abelha. Cerca de 3% da população é alérgica ao veneno da abelhas e podem desenvolver reações anafiláticas após ferroadas.

Os sinais de reação alérgica grave à picada de abelhas ou vespas surgem rapidamente após a ferroada, geralmente em apenas 5 minutos.  Os sintomas de reação alérgica são: urticária , angioedema (inchaço dos lábios e olhos), hipotensão, vômitos, rouquidão, dificuldade respiratória, desorientação e perda da consciência.

A anafilaxia geralmente surge após uma segunda picada de abelha em pessoas que desenvolveram reações alérgicas quando picados pela primeira vez.  Porém, o choque anafilático pode surgir mesmo em quem nunca havia sido picado por abelhas antes.

Se você foi picado por abelha ou vespa e desenvolveu sintomas que foram além de um simples inchaço local, principalmente se tiver tido urticária angioedema ou crises de asma, procure um médico imunoalergista para investigar a possibilidade de você ser alérgico à picada de abelha. O risco de reação anafilática em uma segunda picada é muito alto.

O que fazer quando se é picado por uma abelha?

No casos das abelhas e vespas que sofrem auto-amputação, a primeiro ato do paciente deve ser a retirada imediata do ferrão da pele, pois ele permanece injetando veneno ainda por 1 ou 2 minutos. Alguns autores atestam que deve-se ter cuidado para não espremer a pequena bolsa que vem junto ao ferrão, pois  é ela que contém o veneno.  O ferrão pode ser retirado raspando as unhas na pele ou qualquer objeto rígido, como uma faca ou cartão de crédito.

Há estudos, porém, que dizem que a forma de retirada do ferrão pouco influencia na instilação do veneno, pois a contração da bolsa não aumenta o volume a ser injetado, já que este é feito por mecanismo de válvula. Portanto, se você não conseguir retirá-lo imediatamente raspando-o, o ferrão deve ser removido de qualquer maneira, pois o tempo em que ele fica encravado na pele é muito mais danoso em termos de volume de veneno injetado do que a forma como ele é retirado.

Mesmo que você não consiga remover o ferrão imediatamente, a tempo de impedir a entrada de todo o veneno, o mesmo deve ser retirado assim que possível, pois a sua simples presença pode causar reação inflamatória da pele.

Uma vez removido o ferrão, o tratamento da picada de abelha é simples. Lave a pele com água e sabão e aplique compressas frias ou gelo local.  Se a dor estiver incomodando, um analgésico simples pode ser utilizado. Se houver intensa coceira, um anti-histamínico ajuda a aliviá-la. Não é preciso passar pomadas nem outras substâncias, como pasta de dente, borra de café, manteiga, etc. Nada disso melhora e ainda pode causar infecção da ferida. A dor e o inchaço da picada somem espontaneamente após algumas horas.

Nos casos de reação local mais intensa, pomadas à base de corticoides e/ou corticoides por via oral, como prednisona , podem ser prescritos para aliviar o inchaço. Anti-inflamatórios e anti-histamínicos também são úteis. Se a lesão da picada estiver piorando ao longo dos primeiros um ou dois dias, procure ajuda médica.

Nos casos de reação alérgica, caracterizadas principalmente pelo aparecimento de urticária ou angioedema, o paciente deve ser levado o mais rapidamente possível a um serviço de emergência.

Nos caso de anafilaxia, o tratamento é feito com injeção intramuscular de adrenalina.


Referências

  • How to treat a bee sting – American Academy of Dermatology.
  • Bee, yellow jacket, wasp, and other Hymenoptera stings: Reaction types and acute management – UpToDate.
  • Stinging insect allergy – American Academy of Allergy, Asthma & Immunology.
  • Stinging insect allergy – American Family Physician.
  • Hymenoptera-sting hypersensitivity – New England Journal of Medicine.

Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.